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Yanomami fazem intercâmbio com os Macuxi para praticar conversação em português

Boletim Yanomami no. 29
02 de Ago de 2002

Experiência pioneira permite a professores yanomami acelerar aprendizado do português a partir da convivência em comunidades macuxi

Saber falar e compreender o português não significa apenas cumprir um quisito curricular. Para os Yanomami, aprender a língua dos brancos representa dar mais um passo rumo ao fortalecimento da sua autonomia como povo no relacionamento com a sociedade envolvente. A primeira experiência pioneira nesse sentido ocorreu em abril último, quando dois jovens professores do grupo foram conviver com os índios Macuxi, que já dominam o português, como parte do processo de formação para o magistério. O intercâmbio entre professores yanomami e comunidades macuxi teve ainda por objetivo promover a solidariedade entre os povos indígenas de Roraima.

Segundo o coordenador do Programa de Educação Intercultural (PEI) da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), Marcos Wesley de Oliveira, a partir de 1998, os Yanomami passaram por vários cursos intensivos de português. Mas, uma avaliação realizada três anos depois por uma equipe de consultores independentes revelou que o grupo tinha uma grande frustração em relação à comunicação oral. Esse sentimento dos professores yanomami sinalizou a necessidade urgente de lhes proporcinar oportunidades para aumentar sua fluência em protuguês.

Para isso, um dos métodos mais eficazes é levar os alunos para um ambiente no qual apenas a língua alvo do aprendizado seja falada. Em agosto do ano passado, a idéia de intercâmbio foi debatida e entusiasmou o grupo de 56 professores que participaram do curso Terra (ver Boletim Pró-Yanomami 19, de 17 de agosto de 2001), realizado na Missão Catrimani.

A proposta foi discutida com o presidente e secretário da Organização dos Professores Indígenas do Estado de Roraima (Opir), professor Enilton André da Silva. Em seguida, ocorreram discussões para identificar as áreas para as quais poderiam ser levados os professores yanomami e, por fim, escolhidos os pioneiros do projeto.
A primeira oportunidade de efetivar o intercâmbio surgiu em março último. Os professores yanomami Daniel de Watorikï e Rafael de Parawau, que tinham disponibilidade, foram levados às comunidades macuxi de Sorocaima (região de São Marcos) e Câmara (Raposa/Serra do Sol), respectivamente. Apesar de todas as dificuldades de transporte, a iniciativa apresentou resultado positivo e deverá ser ampliada.

Se a proposta puder contar com a colaboração do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e do Departamento de Educação da Fundação Nacional do Índio (Funai), será possível oferecer a mesma experiência a um grupo de até 20 alunos yanomami, a partir de agosto de 2002. Mantido o mesmo ritmo, no prazo de dois anos, será possível habilitar um considerável grupo de jovens yanomami na fala da língua portuguesa.

Diante do êxito desta primeira experiência, os professores Yanomami estão reivindicando a continuidade destes estágios lingüísticos entre os Macuxi para exercitarem com mais eficiência o uso oral do português. No encerramento do curso Economia e Ecologia, ocorrido na Aldeia Ajuricaba (AM), eles elaboraram uma carta, dirigida à Funai, submetendo a proposta à apreciação do órgão indigenista. No documento argumentam que, "se não aprendermos a falar a língua dos brancos nós não conseguiremos responder aos que cobiçam a nossa terra, porque nós não falamos português".

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