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Xavantes: Governador propõe o retorno às aldeias

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Rodrigo Vargas
14 de Jan de 2004

Índios estiveram ontem com Blairo Maggi, que prometeu ir até a região no dia 23

Uma comissão de índios xavantes se reuniu na tarde de ontem com o governador Blairo Maggi para discutir a situação precária nas aldeias da etnia e a possibilidade de conflito com posseiros envolvendo as terras da área indígena Maraiwatsede - antiga fazenda Suiá Missú, região de Alto Boa Vista (1064 quilômetros de Cuiabá).

Ao grupo, que pediu investimentos em infra-estrutura, saúde e educação, Maggi acenou com um acordo que incluiria o retorno imediato às aldeias dos cerca de 300 xavantes que desde novembro estão acampados às margens da BR-158, nas imediações da área em litígio.

A proposta será levada às aldeias de Água Branca e São Felipe (localizadas em Canarana e Campinápolis, respectivamente), de onde partiram os manifestantes. No dia 23 de janeiro, o governador se comprometeu a visitar as duas áreas para ouvir a resposta da etnia.

"Tentamos fazê-los compreender que a situação está a cargo da justiça e que não faz o menor sentido a permanência naquele local. Em contrapartida, oferecemos a mesma ajuda que outras etnias do Estado já recebem do governo", explicou o secretário-chefe da Casa Civil, Carlos Brito.

Do "pacote" oferecido aos xavantes constam assessoria agrícola, fornecimento de sementes, atendimento emergencial em saúde, melhorias em estradas e a compra de veículos. Brito, porém, garante que a entrega não está vinculada ao retorno às aldeias.

"Não houve nenhum condicionamento, pois se trata de uma decisão que cabe somente a eles. Só queremos que eles percebam a pouca valia do sacrifício que estão fazendo à beira da estrada. Além disso, precisaremos deles na aldeia para implantar nossos programas".

Brito ressaltou que as demandas trazidas pelos xavantes são uma responsabilidade do Governo Federal, por meio da Funai. Atendê-las, admite, é uma "questão delicada". "Não temos interesse em criar atrito institucional. Mas não podemos ignorar esta grave situação. As comunidades indígenas também são o povo de Mato Grosso".

Sem-terra - Para o pajé José Luiz Seretê, um dos líderes da comitiva, o encontro no Paiaguás teve saldo positivo. Ele adiantou ser favorável ao retorno às aldeias. "Minha opinião é deixar livre a rodovia. Não é costume do indígena ficar à beira da estrada, como se fosse mendigo ou sem-terra", avaliou.

Sobre o conflito com os cerca de 600 posseiros que fazem vigília na entrada da Suiá Missú, o pajé afastou temporariamente a possibilidade. "Não existe conflito de fato, de morte e tiro. Até agora ninguém morreu".

Posseiros negam ameaça a Dom Pedro Casaldáliga

Também compareceram ontem ao Paiaguás representantes dos cerca 1,5 mil posseiros que ocupam áreas dentro da reserva indígena Maraiwatsede. A avaliação é que o acordo costurado por Maggi representará um avanço.

"Se eles (os xavantes) voltarem às aldeias, saímos da rodovia no dia seguinte", afirmou o presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de São Félix do Araguaia, Américo Alves Costa, que qualificou a atual situação como "cansativa e angustiante".

Segundo ele, todas as informações dando conta de conflitos armados e ameaças de morte ao bispo Dom Pedro Casaldáliga não são mais do que especulações.

"Nunca houve ameaça ao bispo ou conflito. Houve um bloqueio para que os índios não entrassem na fazenda até a decisão da justiça", garantiu o presidente. "O bispo anda na rua de cabeça erguida, passa por lá de ônibus sem qualquer problema".

Costa assegurou que os posseiros estão preparados para aceitar a eventualidade de uma derrota judicial. "Seja o que for que a justiça decidir, estaremos preparados. Se não for favorável, começaremos a buscar os meios de amparar as famílias que estão na área. Antes disso, não vamos permitir que os índios entrem".

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