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WAIMIRI-ATROARI - Índios não querem conversa com autoridades de Roraima

Folha de Boa Vista
Autor: Antônio Diniz
21 de Jun de 2007

Parte do grupo Waimiri-Atroari quando conversava com membros da equipe supra-institucional do Estado

O deslocamento de autoridades estaduais para investigar o conflito entre índios Waimiri-Atroari e ribeirinhos do Baixo Rio Branco serviu para a Comissão Especial da Assembléia ver o desrespeito às autoridades estaduais. Conforme o deputado Damosiel Alencar (PRP), os indígenas dizem só dever explicação ao Governo Federal e não aceitam entendimentos com representantes do Estado de Roraima.

Com paciência, os agentes públicos convenceram lideranças indígenas a darem algumas informações ao Grupo de Gerenciamento de Crise e aos deputados estaduais. Em busca de mais detalhes, os parlamentares foram à Funai/AM e a coordenação dos Waimiri-Atroari pediu prazo para analisar a proposta de encontro e ainda não respondeu à consulta.

O deputado progressista disse ter se surpreendido com as declarações do administrador regional da Funai/Amazonas, Edgar Fernandes Rodrigues, acompanhado pelo assessor técnico João Melo Farias. "Ele disse que a Funai não tem ingerência sobre os Waimiri. Os próprios índios decidiam sobre as questões internas, daí a resistência da coordenação Waimiri em falar conosco", disse Damosiel.

No entendimento do parlamentar, a Funai/AM demonstrou incapacidade de resolver o impasse exposto na alteração do ponto demarcatório da reserva e proibição do direito de ir e vir dos ribeirinhos do Baixo Rio Branco. Para ele, passa a hora de as autoridades federais competentes chamarem a si a responsabilidade, evitando a quebra de autoridade e do pacto federativo.

Segundo integrantes da delegação, durante o encontro do grupo supra-institucional do Estado houve um momento de tensão. O comandante da Operação desconfiou que um grupo igual ou superior àqueles 30 índios que se apresentaram para conversar com a representação estadual poderia estar escondido na mata próxima.

"Inicialmente, eles se mostraram hostis e até fizeram referência ao equívoco cometido pela Funai, na época da demarcação da reserva", contou um assessor da equipe. "Meu pai foi morto e sangrado pelo Exército exatamente neste local", atacou o líder do grupo indígena ali presente ao responder indagação do capitão Ênio, da 1ª Brigada de Infantaria de Selva.

Entre os motivos apontados pelos indígenas para o deslocamento do marco divisório estava a garantia da preservação ambiental e ecológica da reserva. Para eles, é predatória a presença de ribeirinhos, pescadores e caçadores de Roraima e do Amazonas naquele trecho do rio Jauaperi.

Os índios disseram ainda não aceitar entendimento com o Governo de Roraima. Argumentam que qualquer assunto referente a eles deve ser tratado junto ao Governo Federal. "Não falamos com governador. Quando precisamos e queremos, falamos diretamente com o presidente da República", disse o líder indígena.

Avaliação - No entendimento do deputado Damosiel Alencar, a questão envolvendo a expansão da reserva e a decisão dos Waimiri-Atroari de impedir a pesca e o extrativismo por ribeirinhos de Roraima - suas únicas fontes de renda - não podem continuar. Para ele, a bancada federal roraimense deve buscar soluções imediatas.

Outro fato que preocupou os integrantes da Comissão da Assembléia Legislativa foi a presença de aproximadamente 30 índios oriundos da reserva Catrimani que se fixaram em Santa Maria do Boiaçu. Conforme relato dos indígenas, a ausência de políticas específicas do Governo Federal favorece a fuga para núcleos urbanos não-índios.

"Daqui a pouco, a Funai ou uma ONG estrangeira vão reivindicar aquela região como posse imemorial dos índios. Naturalmente, sob argumento de estarem secularmente ali instalados, o que não é verdade. Os índios nos disseram que saíram de Catrimani por falta de alimentação e deficiência nos atendimentos social e de saúde. O Governo Federal é contraditório. Fala em defesa, cria reservas extraordinárias e deixa os indígenas abandonados. Talvez até esperando que alguma organização estrangeira decida protegê-los", declarou Damosiel Alencar.

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