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A vida de volta a floresta

Veja, Ambiente, p. 80-83
15 de Jul de 2015

A vida de volta a floresta
Ambicioso projeto pretende resgatar a fauna original do Parque Nacional da Tijuca, pedaço reflorestado da Mata Atlântica no Rio que foi mandado plantar por dom Pedro II

JENNIFER ANN THOMAS

Floresta da Tijuca, no coração do Rio, serve de emblema do conflito entre progresso e natureza que marca a história do Brasil desde o descobrimento, em 1500. "Nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do machado da ignorância; com o andar do tempo faltarão até as chuvas fecundantes, que favorecem a vegetação", previu o estadista, naturalista e poeta José Bonifácio em 1823, ao ver a Tijuca sendo desmatada. Por séculos, a floresta foi devastada para dar lugar a cafezais. Bonifácio foi tutor de Pedro II, e influenciou as ideias ambientalistas do último imperador do país. Foi de Pedro II a iniciativa de reverter a situação da Tijuca. Em 1861, antes mesmo da criação do simbólico parque de Yellowstone, nos Estados Unidos - marco do início das preocupações conservacionistas no planeta, ideia tão em voga hoje -, o imperador expulsou fazendeiros e instituiu a área protegida da Floresta da Tijuca. O local estava desflorestado, e levou um século para, em 1961, a flora ser resgatada e a região virar um parque, que ocupa 3,5% do território da capital fluminense (veja ao lado) e é considerado a maior floresta urbana replantada do mundo. O habitat, porém, ainda é tido como "morto" por ambientalistas, pois, se há nele 1619 espécies de planta, faltam animais.
A boa notícia: teve início um extraordinário esforço para recriar a Mata Atlântica original. Desta vez, o que se quer é reviver a fauna da Tijuca.
Passado mais de meio século de sua criação, o parque continua a enfrentar a destruição humana. Hoje, a pressão urbana sobre a floresta vem de incêndios provocados pela queda de balões, do extrativismo ilegal da flora, da caça a animais exóticos para comercializá-los no mercado negro e do avanço de favelas do entorno, a exemplo da Rocinha e da Dona Marta. "A volta dos animais, principalmente os de porte maior, fará com que as pessoas entendam que aquilo é uma floresta e que, portanto, deve ser protegida", explica o biólogo Ernesto Viveiros de Castro, diretor do parque.
Castro coordena o projeto de reintrodução das espécies. Já foram realocadas na floresta, em parceria com pesquisadores, como os da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aves e cutias. O próximo passo, o mais ousado, será levar um grupo de cinco bugios, macacos de pelugem colorida, que pesam até 10 quilos e cujo "ronco" (um grito forte e grosso) os caracteriza. "Além de terem o papel fundamental de dispersar sementes diversas, algo essencial para o balanço do ambiente, os bugios, com seu barulho, farão a população notar de vez a vida na floresta", aposta Castro.

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Veja, 15/07/2015, Ambiente, p. 80-83

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