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Vereador Pataxó Hãhãhãe ameaçado por fazendeiros

Agnaldo Francisco dos Santos/Vereador Pataxó
Autor: Agnaldo Francisco dos Santos
06 de Jun de 2002

Recebemos do CIMI-Itabuna a carta do vereador Agnaldo Santos enviada à Polícia Federal
denunciando as ameaças e agressões que vem sofrendo:
AO DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL DE ILHÉUS - BA.
Através deste, venho comunicar a este DPF, que desde janeiro de 2001, inicio do meu
mandato de Vereador representante do meu povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, que venho recebendo
ameaças de morte e já fui agredido física e moralmente, motivos que me fazem temeroso de
perder a vida e de não poder exercer o meu mandato de forma livre e em segurança,
dificultando assim a defesa que faço do meu povo e do povo de Pau-Brasil.
O indicio de que eu seria sempre ameaçado em meu mandato, surgiu na primeira seção de
abertura da Câmara, quando o Vereador Wilson Augusto, irmão do Prefeito José Augusto dos
Santos Filho, ambos fazendeiros dentro da área indígena, ameaçou-me verbalmente em seu
discurso.
No dia 09 de fevereiro de 2001, o segurança do prefeito, vulgo Escadinha, procurou o cacique
Gerson de Sousa Mello que estava acompanhado com outras pessoas, e disse para ele que se
eu não parasse de acusar o prefeito e defender a causa dos funcionários concursados e
demitidos injustamente, ele me mataria. Hoje, o citado Escadinha é foragido, pois matou uma
pessoa dentro do Clube Social de Pau-Brasil, fala-se na cidade que ele está escondido em
alguma fazenda vizinha Pau-Brasil, pois é visto com freqüência.
Em 11 de junho de 2001, fui agredido física e moralmente pelo Vereador Wilson Augusto, em
plena seção da Câmara pelo motivo de fazer oposição ao prefeito em suas ações
irresponsáveis, novamente as acusações foram feitas de público, com um conteúdo carregado
de preconceitos contra os índios.
Em dezembro de 2001, o individuo conhecido como Nizan, genro do ex-prefeito Durval
Santana, tentou interceptar o veiculo que eu dirigia, arremessando sua F-1000 contra o meu
carro na tentativa de eu parasse estando ele acompanhado de conhecidos capangas de seu
sogro, salientando que este mesmo Nizan, já havia estourado uma casa de índios com
bombas e vários tiros de armas de fogo fato constatado peã Polícia Federal. No fato da
tentativa contra mim, estava eu acompanhado pelas indígenas Marielma e Raimunda e pelo
senhor Rolemberg todos moradores da aldeia Caramuru.
O fato mais recente, foi agora no dia 30 de maio de 2002, quando da retomada da fazenda do
Sr. Waldemir Clementino, estando eu na casa do chefe de posto Alberto Evangelista, fui
agredido pelo Sr. Judson (Du) que é genro do Sr. Waldemir Clementino e trabalha para o
ex-prefeito Durval Santana. O citado Judson, invadiu a casa do chefe de posto e só não me
pegou por que foi contido pelo nosso chefe e por um amigo que chegou na hora. Ameaçou-me
de morte, e incorreu no grave crime de preconceito, dizendo que eu não era índios coisa
nenhuma, eu era um negro descarado.
O fato de eu ser índio e ter direito a voz, pelo meu mandato, coloca-me diante de constantes
ameaças de morte por parte de fazendeiros invasores das nossas terras e partidários políticos
do ex-prefeito Durval Santana e do atual prefeito José Augusto dos Santos Filho, ambos,
também proprietários dentro da área indígena, o que nos deixa as vezes sem saber se a
ameaça é por causa da política ou por causa da questão indígena. O que eu e meu povo
achamos é que é pelos dois motivos.
As ameaças a que me refiro, são tão abertas, que as próprias autoridades policiais, nos
alertam extra-oficialmente do risco que corremos e o fato de eu ter que estar todas as
segundas-feiras na Câmara de Vereadores e ter que voltar tarde da noite para a aldeia, me
expõe ao perigo constantemente.
Saliento ainda, que todos estes fatos já foram denunciados á Procuradoria da República,
venho agora, novamente, reiterar meu pedido de proteção às autoridades competentes, para
que eu possa desempenhar o nobre papel de Vereador do meu município, e que eu possa
assim viver em paz com meu povo, como indígena que sou.
Atenciosamente
Agnaldo Francisco dos Santos - Vereador e índio Pataxó Hã-Hã-Hãe
Pau Brasil (Caramuru), 05 de junho de 2002.

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