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Verde-eamarelo no 'bushismo' ambiental

JT, Opinião, p. A2
Autor: TETTI, Laura; JARDIM, Arnaldo
07 de Jun de 2004

Verde-e-amarelo no 'bushismo' ambiental

Laura Tetti e Arnaldo Jardim

O que o mundo nos ofereceu nesta Semana do Meio Ambiente?
Sem muita atenção da mídia nacional - mais atenta às práticas bélicas "bushistas" no Oriente Médio -, a imprensa americana vem divulgando o enorme retrocesso que a atual administração tem promovido nas normas de controle ambiental dos EUA.
Além de propor a perfuração petrolífera em santuários ecológicos e de se negar a aderir ao Protocolo de Kyoto (apesar de poluírem o mundo com mais de um quarto das emissões de gases de efeito estufa), Bush também contribui decisivamente para aumentar os níveis de intoxicação pulmonar da população americana.
Mais do que uma pena, isso é um perigo, pois, vindo de um país dominante como os EUA, medidas desse teor alimentam, no resto do mundo, as ultrapassadas posições dos que defendem que a proteção do meio ambiente é um entrave ao crescimento da economia e ao desenvolvimento.
Mas a fúria com que Bush se lança na defesa dos próceres do uso de combustíveis fósseis acaba por abrir espaço para a contestação - por razões econômicas e principalmente ambientais - do atual modelo de suprimento energético do mundo.
Exemplo desse contraponto é o recente anúncio, do presidente da Rússia, Vladimir Putin, comunicando que seu país vai acelerar sua ratificação do Protocolo de Kyoto. Decisão semelhante foi tomada pelo Parlamento alemão. Isso fará com que - finalmente - as determinações do protocolo entrem em regime de cumprimento e execução em todos os países signatários (isolando ainda mais os EUA).
Pelas regras do protocolo, usar combustíveis fósseis e poluir custa dinheiro e a opção pelas energias limpas e renováveis passa a ser uma necessidade financeira concreta, não mais apenas uma demonstração de "bom-mocismo" ambiental.
Mesmo assim, não podemos esquecer que, se nos países desenvolvidos a situação caminha a passos de tartaruga, nos países mais pobres a questão ambiental é ainda mais grave. Nesses países, o meio ambiente está ligado diretamente ao desenvolvimento humano - e à pobreza. Além de cobrar dos países desenvolvidos, precisamos lutar para que se criem novos mecanismos de financiamento internacional de promoção ao meio ambiente e se reforcem os já existentes.
Aí entramos nós...
Por variadas circunstâncias históricas e geográficas e apesar dos nossos sérios e crônicos problemas socioeconômicos, conseguimos edificar um país - único no mundo - que tem mais de 80% dos seus recursos energéticos baseados no uso de fontes renováveis e não poluentes.
No que diz respeito aos combustíveis líquidos derivados do petróleo, conseguimos agregar à nossa agroindústria canavieira e ao uso do álcool combustível tecnologia, modernidade e competitividade.
Se, além da nossa capacidade de transferência de know-how e tecnologia, considerarmos nosso potencial de expansão (inclusive com a incorporação do uso de biodiesel e da biomassa da cana), não é difícil reconhecer que o Brasil tem nas mãos um diferencial de imenso valor e com um fantástico potencial de comercialização.
No atual contexto, não é simples patriotada ou exagero considerar que podemos, sim, "pintar de verde-e-amarelo o bushismo ambiental".
Na Semana do Meio Ambiente o que se destaca é que temos nas mãos um diamante. Precisamos perceber que o momento é agora, e que não temos o direito de usar esse grande diamante como simples peso de segurar papel.

Laura Tetti é bacharel em história e ciências sociais USP e consultora de meio ambiente e-mail: tetti@amcham.com.br

Arnaldo Jardim é deputado estadual (PPS-SP),coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável e engenheiro civil (Poli-USP) e-mail: arnaldojardim@uol.com.br

OESP, 07/06/2004, Opinião, p. A2

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