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Veneno natural

CB, Brasil, p. 8
13 de Jun de 2006

Veneno natural
Pelo menos 11,8 mil brasileiros já morreram vítimas de bichos peçonhentos. Instituto Butantan abrirá unidade no Norte, devido à falta de soro antiofídico

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

Serpentes, aranhas, escorpiões, lacraias e animais aquáticos. Se você mora em casa ou tem hábito de tomar banho de rio, fique atento para o perigo que determinadas espécies representam. O Brasil tem cerca de 1,6 mil espécies de bichos peçonhentos. Nos últimos 10 anos, eles mataram exatas 11.813 pessoas em todo o país com uma simples injeção de veneno. As serpentes respondem por 80% dessa estatística. Os escorpiões ficam em segundo lugar e as aranhas em terceiro, segundo o Ministério da Saúde.

Na Amazônia, onde as distâncias são grandes, é comum pessoas serem picadas por cobras em comunidades distantes. Um estudo feito pela Universidade Federal do Acre (Ufac) revela que 13% dos moradores do Vale do Juruá, no estado, foram picados por cobras, arraias e outros animais peçonhentos da Amazônia, em 2002. A maioria das picadas ou mordidas foi no pé. Segundo o estudo, índios Katukinas foram os mais atingidos, com 812 casos, representando 17% do total no estado.

No Acre, o maior problema é a falta de soro antiofídico ou heterólogo. A substância que inocula veneno está disponível apenas nos municípios mais desenvolvidos. Ser picado por uma cobra nas comunidades distantes faz com que as vítimas morram a caminho do hospital ou no local do acidente. No Acre, só há soro em Rio Branco. Nos municípios do interior é raro, atesta pesquisadora Roberta Homobono, da UFAC. O problema da escassez de soro é tão grave que o Instituto Butantan, considerado um centro de excelência, vai abrir uma filial na região Norte em 2007.

Ainda na Amazônia, algumas espécies de arraias são tão perigosas que chegam a deixar suas vítimas com paralisia por conta do potente veneno que algumas espécies injetam pelo ferrão. Cobras, aranhas, vespas e morcegos também atacam pessoas na selva.

Dentes
Animais peçonhentos são aqueles que produzem substância tóxica e apresentam um aparelho especializado para inoculação do veneno. Na maioria dos casos, os bichos peçonhentos possuem glândulas que se comunicam com dentes ocos, ferrões ou aguilhões, por onde o veneno é introduzido no homem. Dependendo da espécie de cobra, por exemplo, a vítima pode morrer em menos de uma hora, explica o biólogo Fernando Almeida Campos, do Instituto Butantan, em São Paulo. A diferença entre animais peçonhentos e venenosos é que bichos do segundo grupo produzem veneno, mas não têm um aparelho inoculador para levar a substância até o homem.

No ranking do Butantan, os pesquisadores elegeram as serpentes do grupo da jararaca, cascavel, surucucu e coral-verdadeira como as mais perigosas. Entre as aranhas, as espécies marrom, armadeira e viúva-negra são as que mais atacam, além da caranguejeira. "Para ficar longe do ataque desses bichos, o ideal é não andar descalço, principalmente na zona rural. No campo e na mata, sempre usar sapatos, botinas sem elásticos, botas comuns ou perneiras. Esse cuidado evita 80% dos acidentes", alerta Osmar Müller, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).

O Butantan aconselha ainda a usar luvas de couro nas atividades rurais e de jardinagem. "Nunca devemos colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras. São nesses lugares que os bichos peçonhentos se escondem", adverte Fernando Campos.

O professor de biologia da Universidade de Campinas (Unicamp), Rômulo Ushida, adverte que é preciso muita cautela quando uma pessoa for picada por uma cobra. O socorro deve ser imediato. "No caso de acidentes com jararaca, a região da picada apresenta dor e inchaço, às vezes com manchas arroxeadas. Há sangramentos pelos poros, gengiva, pênis e principalmente pelos orifícios da picada", relaciona.

Pode haver complicações como infecção e necrose na região da picada além de insuficiência renal. Já a surucucu pode ainda causar vômitos, diarréia e queda da pressão arterial. O local da picada não apresenta lesão evidente. A vítima sente apenas uma sensação de formigamento e uma dificuldade em manter os olhos abertos, com aspecto sonolento, além de dores musculares generalizadas e urina escura.

As picadas de escorpião também são graves e podem matar, principalmente se a vítima for criança. A dor começa no local da lesão, mas evolui na maioria dos casos para náuseas, vômitos, alteração da pressão sangüínea, agitação e falta de ar. Já as picadas de aranhas costumam causar dor imediata e intensa, com poucos sinais visíveis no local da picada.

Dependendo da imunidade da vítima, o veneno da aranha causa agitação, náuseas, vômitos e diminuição da pressão sangüínea. No caso da aranha-marrom, a picada é pouco dolorosa e uma lesão endurecida e escura costuma surgir várias horas depois, podendo evoluir para ferida com necrose de difícil cicatrização. Dependendo da picada, pode ocorrer escurecimento da urina. A viúva-negra causa dor elevada na região atingida, contrações nos músculos, suor generalizado e alterações na pressão e nos batimentos cardíacos. Pode matar em questão de horas.

O NÚMERO
13% dos moradores do Vale do Juruá (AC) foram picados por animais peçonhentos

CB, 13/06/2006, Brasil, p. 8

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