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Vegetação devastada e solo vulnerável

O Globo, Ciência, p. 34
27 de Mar de 2013

Vegetação devastada e solo vulnerável

O predomínio de municípios do semiárido no levantamento do GLOBO não surpreendeu os especialistas. A região sob a influência deste clima abrange 1.135 municípios. Destes, 92% declararam situação de emergência ou de calamidade pública devido à seca que acomete a região desde agosto de 2011. É a maior estiagem enfrentada por estas cidades em pelo menos 30 anos. Em 2012, o balanço hídrico local foi negativo - ou seja, mais água evaporou do que caiu sobre o seu solo. Segundo os prognósticos climáticos, boa parte do interior nordestino pode se tornar um deserto nas próximas décadas. Este processo, já em andamento, ocorre não apenas devido às transformações globais, como também pela atuação do homem.
Quase metade da vegetação de caatinga já foi devastada pela agropecuária, especialmente em grandes propriedades. O solo tornou-se vulnerável às chuvas - que, embora ausentes nos últimos tempos, costumam ocorrer quatro meses por ano.
- Sem uma vegetação cobrindo o solo, o impacto das chuvas sobre ele é muito violento, o que leva à sua erosão - explica o pesquisador Leonardo Tinôco, do Instituto Nacional do Semiárido. - A natureza leva 300 anos para decompor uma rocha e produzir um centímetro de profundidade de solo. Com apenas uma chuva, isso é destruído.
A caatinga se formou há milhares de anos e sempre experimentou grandes estiagens. O problema é que o intervalo deste fenômeno cíclico, antes de 15 anos, está se reduzindo.
A maior incidência de eventos extremos como a seca é uma das características de mudanças climáticas associadas ao aquecimento global. A emissão de gases-estufa na atmosfera, motor das mudanças climáticas, pode ser amenizada pelo uso sustentável da terra. No semiárido, estas ações são ignoradas.
- Temos 22,5 milhões de pessoas e 28 milhões de cabeças de gado disputando um bioma extremamente frágil, cuja produtividade nunca responderá às novas demandas - atenta Tinôco. - Se a seca se tornar mais frequente ou prolongada, haverá risco para o litoral, porque os rios que abastecem as capitais nordestinas nascem no semiárido.
O único que se espantou com o resultado do levantamento foi o prefeito de Bom Jesus, Marcos Elvas.
- Mas não sou um climatologista, só um consumidor de calor - brinca. - De qualquer forma, em Bom Jesus o ar condicionado é quase universal, tão importante quanto a geladeira.

O Globo, 27/03/2013, Ciência, p. 34

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