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A vanguarda agrícola

FSP, Opinião, p. A2
23 de Abr de 2008

A vanguarda agrícola
Zoneamento em Mato Grosso pode desfazer associação usual entre destruição do ambiente e fronteira do agronegócio

Os dados sobre desmatamento na Amazônia em março são pouco conclusivos, pois o excesso de nebulosidade dificultou a coleta de imagens por sensores de satélites. Fica prejudicada a comparação direta dos 145 km2 registrados com os 724 km2 de fevereiro. Derrubadas ocorridas podem ter escapado das câmeras, mas não se descarta que tenha arrefecido a destruição. Espanta é que 45% (63 km2) do desmate medido ocorra num único município, Marcelândia (MT).
Não que Mato Grosso e essa localidade em particular já não sejam conhecidos como pólos ativos de devastação. Da lista de 36 municípios que mais desmatam, 19 são mato-grossenses, inclusive Marcelândia. A boa notícia é que começam a ser dados os passos corretos para que se altere tal estado de coisas, como o zoneamento socioeconômico-ecológico do Estado.
O governador Blairo Maggi (PR) deve encaminhar nesta semana à Assembléia Legislativa o projeto de zoneamento, em sua terceira versão (as anteriores não prosperaram no Legislativo estadual). Com base em parâmetros geológicos, topográficos e ambientais, a proposta disciplina a ocupação e o uso dos 903 mil km2 de Mato Grosso (3,6 vezes o Estado de São Paulo).
O mapa resultante identifica os 99 mil km2 (11,1% do território) passíveis de uso para agricultura intensiva, como as modernas lavouras de soja, milho e algodão. As áreas protegidas para conservação ambiental ou usufruto indígena passam de 20% para 27%, ou 246 mil km2.
O projeto está orientado na direção correta de regrar -mais que proibir- a atividade econômica no cerrado e na floresta amazônica mato-grossenses, dois centros de biodiversidade. Pode enfrentar novas dificuldades políticas, pois até agora obteve mais apoio de ambientalistas que de empresários agrícolas.
Ninguém melhor para fazer o projeto vingar do que Blairo Maggi. O governador, ele mesmo oriundo de um grupo na liderança do setor de soja, conhece em primeira mão as pressões internacionais por responsabilidade socioambiental na produção de commodities agrícolas.
Um zoneamento como o proposto, desde que preparado com apuro, debatido com pluralismo e implementado com rigor, oferece a melhor resposta. É com esse tipo de estigmatização que os países ricos tentam desencaminhar o debate que mais interessa, sobre seus vergonhosos subsídios agrícolas. Cabe a produtores brasileiros provar com fatos e dados que a pujança do agronegócio nacional vem da produtividade ímpar, e não da dilapidação do capital natural.

FSP, 23/04/2008, Opinião, p. A2

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