Vale do Ribeira detém 23% do que sobrou da Mata Atlântica

Vale do Ribeira detém 23% do que sobrou da Mata Atlântica
O restante está espalhado em 17 estados do Brasil

Por: Guilherme Marcondes, colaborador - 17/07/23 - 07:55

Devastada pela urbanização das grandes cidades, resta pouco da Mata Atlântica no País: apenas 7% da cobertura original. O maior pedaço contínuo desse bioma está no Vale do Ribeira, que conseguiu preservar 23% do total brasileiro. O restante está espalhado em 17 estados.

Por essa razão, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) deu o título de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e Patrimônio Natural da Humanidade. São 17 mil km2 de vegetação entre São Paulo e Paraná, que ocupam 72% da área da bacia do Ribeira.

A bióloga Raquel Pasinato, atua há 20 anos como técnica do Programa Vale do Ribeira do Instituto Socioambiental (ISA). "É um território protegido em termos legais. O bioma em si é o único em nosso país que tem uma legislação específica de proteção, que existe desde 2007. A partir disso, outras regulamentações estaduais acabaram criando uma camada ainda mais ampla de proteção na vegetação. Há bastante proteção para a Mata Atlântica e no Vale do Ribeira".

Fonte de água
Raquel acredita que essa é a forma de preservar uma área tão importante, uma vez que é no Vale onde está uma expressiva quantidade de recursos hídricos fundamentais para duas grandes metrópoles: São Paulo e Curitiba. "Hoje, o Vale do Ribeira já fornece água para as regiões metropolitanas. É uma área que tem essa peculiaridade de muitas nascentes, por conta justamente do nível de conservação dessas florestas".

Além disso, a Mata Atlântica contribui para o regime de chuvas e para a regulação climática. "Quando há chuvas fora do normal ou algum evento climático, isso se dá em áreas que estão mais degradadas, onde a floresta está menos conservada. Nós aqui só temos a preservação por conta desse bioma ter 45 unidades de conservação na região, divididas entre proteção integral e sustentável. Dados de 2020 do inventário do Instituto Florestal indicaram aumento da cobertura de vegetação nativa".

População
O coordenador do Programa Vale do Ribeira do Instituto Socioambiental (ISA), Frederico Viegas, observa que o Vale do Ribeira tem uma densidade demográfica menor e ainda conta com a existência de populações tradicionais, como os quilombolas, caiçaras, caboclas e ribeirinhas.

"Essas populações utilizam a área com princípios que não são de destruir a floresta. O uso dialoga muito com algumas estratégias importantes de geração de renda. A forma como vivem garante a subsistência e ainda gera alimentos para grandes metrópoles. Um exemplo são as comunidades quilombolas, que manejam mais de 200 variedades agrícolas, como 23 tipos de arroz, 20 de mandioca, 16 de feijão, 10 de banana e mais de 60 espécies de batata-doce. Além de manter a floresta em pé, garantem a sua alimentação saudável e de outras pessoas. Esses alimentos estão sendo comercializados na merenda escolar, favelas e em outros lugares a preços justos".

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