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Vacas verdes contra o aquecimento

O Globo, Ciência, p. 27
24 de Jun de 2009

Vacas verdes contra o aquecimento
Genética e rações light são usadas para reduzir as emissões de metano desses animais

O ideal era que elas fossem bem educadas. Como isso é impossível, pesquisadores continuam tentando descobrir novas formas de reduzir as emissões de metano - um dos gases ligados ao aquecimento global - causadas pelas vacas quando arrotam e emitem flatulências. No Canadá, cientistas usam técnicas de seleção para chegar a uma linhagem de vacas que emitiria menos gases. Nos Estados Unidos, as tentativas de reduzir as emissões desses animais - normalmente subestimadas, mas responsáveis por quase três quartos do metano lançado na atmosfera - têm se dado através de mudanças nas rações. Embora seja menos comum na atmosfera do que o dióxido de carbono, o metano (CH4) retém 20 vezes mais o calor
Na Universidade de Alberta, no Canadá, um grupo de pesquisadores, liderados por Stephen Moore, um especialista em nutrição animal, está examinando os genes responsáveis pela produção de metano no estômago desses animais na tentativa de obter animais mais eficientes, ecologicamente falando, que emitiriam menos 25% de metano durante a digestão. Os animais seriam cruzados e os pesquisadores esperam obter filhotes que produzam menos metano. Estes seriam usados para formar novas linhagens. Porém, os cientistas precisam saber se os genes de interesse são transmitidos de uma geração para outra.
- Estamos na fase inicial de testes - diz Moore, que publicou recentemente um trabalho sobre o assunto no "Journal of Animal Science".
Outra forma de atenuar a pegada ecológica das vacas, explica Moore, seria reduzir o tempo em que os animais ficam pastando. Isso significaria criar animais capazes de se desenvolver mais rapidamente, convertendo de forma mais eficiente alimento em músculos e produzindo, assim, menos metano.
Um outro método de reduzir essas emissões de metano, já bastante debatido, gira em torno de mudanças na alimentação das vacas. Cientistas acreditam que uma dieta mais energética e rica em óleos comestíveis seria capaz de fermentar menos que a grama e outros alimentos. Pecuaristas de New Hampshire, ligados ao grupo Danone, conseguiram reduzir as emissões dos seus animais em cerca de 12% ao adicionar alfafa, cânhamo e sementes de linho à sua ração, sem prejuízos para a produtividade. O mesmo método já está sendo usado em mais de 600 fazendas na França.
- Os animais parecem mais saudáveis - garante Guy Choiniere, um dos maiores produtores de leite da região. - Sua pele está mais brilhosa e até mesmo o hálito ficou melhor.
De acordo com os cientistas, essa dieta faz com que os animais produzam menos gases do que as rações tradicionais, à base de soja e milho. Estes ingredientes, porém, são fartos e mais baratos, o que explicaria a resistência de alguns pecuaristas em trocá-los.
O impacto ambiental, porém, fala mais alto. Analistas indicam que se todos os produtores de laticínios americanos reduzissem suas emissões de metano em 12%, isso seria o equivalente a tirar cerca de meio milhão de carros das ruas.

O Globo, 24/06/2009, Ciência, p. 27

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