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Usinas de energia dependem de florestas

O Globo, Ciência, p. 24
14 de Mai de 2013

Usinas de energia dependem de florestas
Desmatamento na Floresta Amazônica reduz a geração de hidrelétricas, diz estudo

RENATO GRANDELLE
renato.grandelle@oglobo.com.br

A construção de hidrelétricas e a preservação do meio ambiente costumam ser vistas em alas opostas. Entre os próprios empresários há a crença de que o desmatamento aumentaria a geração de energia - afinal, as árvores consomem uma parcela da água da chuva que, se não houvesse vegetação, cairia nos rios. Um novo estudo, coordenado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), comprova como, na realidade, o que ocorre é o oposto - quanto menor é a área verde, menor a eficiência das usinas instaladas nas florestas.
O Ipam centrou o estudo na Hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída na Bacia do Rio Xingu, no Pará, com inauguração prevista para 2015. Ainda assim, os pesquisadores garantem que o seu trabalho pode ser aplicado a outras biomas no mundo.
- Florestas tropicais geram a própria chuva devido à sua transpiração contínua - explica Claudia Stickler, pesquisadora do Ipam e coautora do artigo publicado na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences". - Quando a vegetação é substituída por pastos, que jogam menos vapor d'água na atmosfera, ocorrem menos precipitações. Na região de uma hidrelétrica, esta relação é ainda mais clara.

Até 4 milhões sem energia
Em um dos cenários analisados, o desmatamento provocaria uma redução de 38% da geração de energia da usina paraense - ou, em dados absolutos, o consumo de 4 milhões de pessoas, especialmente na Região Norte. Esta devastação diminuiria em até 15% a quantidade de precipitações.
Esta hipótese considera a retirada de 40% da cobertura vegetal amazônica até 2050. Parece um exagero, mas alguns sinais indicam que, mesmo se este percentual não for atingido, alguns danos àquele bioma já são estudados. Se a Amazônia fosse integralmente preservada, ela teria hoje até 7% mais chuvas do que se registra.
- A diminuição dessas precipitações altera a vazão dos rios e, portanto, a geração de energia elétrica - alerta Marcos Heil Costa, professor da Universidade Federal de Viçosa e coautor do artigo. - Em Belo Monte esta situação é ainda mais complicada, porque a região onde ela é instalada não tem condições para armazenar o excesso de chuvas durante toda a estação de seca.
Cerca de 45 usinas estão sendo construídas no Brasil, mas Belo Monte sozinha responderá por 40% de todo o crescimento da produção energética previsto até 2019. Será a terceira maior hidrelétrica do mundo, perdendo apenas para a de Três Gargantas, na China, e Itaipu, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai.
O levantamento destaca os esforços governamentais para, na última década, reduzir a derrubada de áreas verdes. Somente em 2012, 24% das clareiras no meio da Floresta Amazônica foram fechadas. Mas há sempre o risco de estas políticas serem afrouxadas.
- O mais importante a ser considerado é que, se o desmatamento for extinto, a geração de energia aumentaria em até 9% - salienta Costa. - Por isso devemos concluir que há uma plena ligação entre o desenvolvimento econômico e a preservação da floresta.

O Globo, 14/05/2013, Ciência, p. 24

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