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Usina no Rio produz energia a partir de lixo orgânico e plástico

FSP, Cotidiano, p. C4
21 de Mar de 2009

Usina no Rio produz energia a partir de lixo orgânico e plástico
Criado em parceria com a UFRJ, projeto deve ganhar agora escala comercial para três prefeituras e uma indústria
Plástico funciona como combustível na queima do material orgânico; tecnologia é vista como uma alternativa para os lixões e aterros

Janaina Lage
Da sucursal do Rio

Uma solução comumente adotada em países europeus para o gerenciamento de resíduos começa a ganhar espaço no Brasil: a geração de energia a partir do lixo. Uma usina-piloto iniciou as operações no campus da UFRJ em 2005 e a empresa responsável pelo desenvolvimento da tecnologia, a Usina Verde, trabalha agora na realização de projetos em escala comercial para três prefeituras e uma indústria de grande porte. A tecnologia é vista como alternativa aos lixões e aterros.
Segundo Luiz Carlos Malta, diretor da Usina Verde, o prazo estimado para a entrada em operação dos projetos em escala comercial é de dois anos. Os interessados são duas prefeituras e uma indústria de Santa Catarina e uma prefeitura do Nordeste -os nomes não foram divulgados devido a uma cláusula de confidencialidade.
"O potencial de clientes para esta tecnologia envolve shoppings centers, redes de supermercados e grandes geradores de resíduos", disse. A empresa é licenciadora de tecnologia e vende o projeto para empreendedores, como empreiteiras.
Apresentada como uma solução viável ambiental e economicamente, a usina-modelo processa hoje 30 toneladas de lixo por dia com material trazido de uma estação de tratamento da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio), no Caju, região central do Rio, e gera 440 kWh para consumo próprio.
Os projetos em escala comercial serão feitos em módulos para operar com 150 toneladas de lixo por dia e geração de 3,3 mWh. Desse total de energia, 2,8 mWh podem ser vendidos, o suficiente para abastecer 14 mil casas. Segundo o diretor da Usina Verde, o projeto não conta com dinheiro público.

Processo
O processo é feito em duas etapas. Na primeira, uma equipe separa o material reciclável, como garrafas PET, papel e plástico. Depois disso, o material orgânico e o plástico não reciclável seguem para um forno com temperatura próxima dos 1.000C. O plástico é o elemento que funciona como combustível no processo.
"O plástico tem um poder combustível próximo do óleo diesel. Nesse tipo de uso, ele faz o papel do mocinho. O grande inimigo do aquecimento global é a matéria orgânica. A sua degradação gera metano e gás carbônico [CO2]. O gás metano é 23 vezes pior do que o CO2 para o aquecimento global", disse. O processo gera em média 8% de cinzas e de material inerte -que, segundo a Usina Verde, podem ser usados na fabricação de pisos e tijolos.
O projeto foi classificado pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, como mecanismo de desenvolvimento limpo, ou MDL, por evitar a emissão de metano e gerar energia alternativa. O MDL é um instrumento criado pelo Protocolo de Kyoto para ajudar os países desenvolvidos a atingir metas de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. Por meio desses projetos, países ricos que financiam projetos de tecnologia limpa nos países em desenvolvimento ganham créditos de carbono.
Na Europa existem 420 usinas semelhantes em operação.

Proposta não é adequada para o país por envolver queima de resíduos, diz entidade

Da sucursal do Rio

O projeto da Usina Verde é alvo de críticas por envolver a queima de resíduos. Para Silvia Martarello, coordenadora de pesquisas da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), a proposta não é adequada para o Brasil.
"É preciso considerar as características específicas do país. A solução para resíduo não se enquadra em soluções pós-geração, e sim pela redução do consumo. A queima gera substâncias cujas emissões precisam ser acompanhadas periodicamente. Na Itália, essas medições são feitas pela empresa e por laboratórios independentes. Os resultados são confrontados em audiências públicas periódicas", disse.
Na avaliação de Fábio Feldman, consultor em desenvolvimento sustentável, tais questões podem ser resolvidas por meio do licenciamento ambiental e das condições determinadas para a implantação dos projetos em cada cidade. "O Brasil não resolveu a questão da destinação do lixo; até hoje muita coisa é jogada em lixão. Essa é uma solução interessante porque, além de gerar energia, você está capturando e queimando metano, que é um gás do efeito estufa", disse.

Melhores técnicas
A empresa afirma que faz um acompanhamento rigoroso das atividades e que os resultados estão em linha com as normas ambientais. A empresa ressalta ainda que a Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, assinada por diversos países, destaca o tratamento térmico -desde que realizado de forma adequada- como uma das melhores técnicas disponíveis.

FSP, 21/03/2009, Cotidiano, p. C4

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