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Usina de Balbina polui mais que termelétrica

OESP, Vida, p. A20
20 de Jun de 2007

Usina de Balbina polui mais que termelétrica
Instalação perto de Manaus emite dez vezes mais metano e gás carbônico do que unidade movida a carvão mineral com mesmo potencial energético

Liège Albuquerque, Manaus

A hidrelétrica de Balbina, construída há 20 anos nos arredores de Manaus, gera hoje dez vezes mais metano (CH4) e gás carbônico (CO2) do que uma termelétrica movida a carvão mineral com o mesmo potencial energético, 250 megawatts. São 3.380 mil toneladas de CO2 e CH4 liberados, ou 3,08 toneladas de CO2 e CH4 por megawatts/hora.

A constatação, que enfraquece a tese da hidrelétrica como fonte limpa de energia, é de três cientistas que realizaram estudo na jusante (água depois de passar pela barragem) de Balbina, com oito coletas durante dois anos, 2004 e 2005. O resultado será publicado neste mês na revista Geophysical Research Letters.

O metano é um dos gases que causam o efeito estufa. Apesar de ter um tempo de vida menor do que o gás carbônico, ele tem um potencial de aquecimento maior. "O metano emitido por Balbina nesses dois anos de pesquisa equivale a 8% de todo o gás carbônico jogado ao ar na queima de combustíveis fósseis na cidade de São Paulo. Além disso, o CH4 da hidrelétrica equivale a 3% do total desse gás emitido pela Amazônia Central", afirmou Alexandre Kemenes, um dos autores do estudo, parte do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA).

A emissão alta se dá porque a represa de Balbina foi construída em área florestada, o que provoca uma intensa decomposição do material orgânico no fundo do lago, emitindo uma grande quantidade de gases-estufa. O lago tem 30 metros de profundidade e no fundo não há oxigênio, o que favorece o aumento da atividade das bactérias anaeróbias.

A turbina da hidrelétrica puxa a água do fundo do lago, de onde vem essa concentração máxima de gases nocivos à atmosfera. Eles são emitidos instantaneamente por causa da elevada pressão hidrostática do fundo. "É semelhante a abrir uma garrafa de refrigerante quente depois de chacoalhada: em contato com o ar, o gás explode e vai direto para a atmosfera", compara o cientista.

Jirau e Santo Antônio
Os cientistas começaram em abril a pesquisar a emissão de gases da jusante das outras três hidrelétricas da Amazônia: Samuel, Curua-Uma e Tucuruí. "A tendência é que os resultados sejam parecidos pela similaridade do clima e da forma de inundação", diz Kemenes.

O cientista defende que o problema poderia ser diminuído com uma medida radical, no caso dos projetos das duas novas hidrelétricas na região, Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira: o desmatamento total da área a ser inundada. "Todas as hidrelétricas amazônicas não foram totalmente desmatadas porque acreditava-se que a matéria orgânica seria rapidamente decomposta. Mas, 20 anos depois, ainda há muita vegetação morta sob o lago de Balbina, produzindo metano e causando poluição na atmosfera."

Para a autora de um estudo que demonstra que a floresta amazônica responde por mais de 20% das emissões de CH4 do mundo, Luciana Vanni Gatti, a pesquisa mostra que o erro em Balbina deve ser evitado nas novas hidrelétricas. "A emissão de metano vai existir, mesmo com esses cuidados, mas certamente será menor."

OESP, 20/06/2007, Vida, p. A20

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