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Usina Barra Grande é considerada uma perda para a natureza

Ambiente Brasil-Brasília-DF
Autor: Danielle Jordan
27 de Jul de 2005

O momento político conturbado que o país atravessa encobre diversas ações que deveriam ter destaque para evitar prejuízos ainda maiores. Essa é a avaliação da advogada e ambientalista Sulema Mendes de Budin, que lamenta a falta de atenção da mídia para "temas importantíssimos", entre os quais a construção da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, tido por muitos ecologistas como um grave crime ambiental.

A Usina, situada no Rio Pelotas - na divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul -, teve a licença para o funcionamento cedida pelo Ibama no início deste mês. Cerca de seis mil hectares de floresta serão inundados, cedendo espaço a um lago com 94 quilômetros quadrados. Ambientalistas alertam para importância dos remanescentes da Floresta de Araucárias, que são de fundamental importância para a preservação da biodiversidade. Espécies endêmicas, (que ocorrem em determinadas regiões) estão em risco, entre elas a Dyckia distachia Haaler, bromélia rara listada como uma das espécies brasileiras em extinção. Técnicos decidiram pela total remoção da população das plantas existentes no local, que serão levadas a viveiros e, lá, reproduzidas.

Sulema faz um apelo falando da decisão final liberando o funcionamento da Usina: "eles vão abrir as comportas e daí será tarde demais para o que é fundamental: impedir a devastação". Lúcia Ortiz, coordenadora geral do Núcleo Amigos da Terra Brasil analisa, porém, que nada mais pode ser feito: o lago da barragem já começou a encher e em dois ou três meses deverá atingir seu limite. "O estrago já foi feito e nada mais poderá reverter", diz, ressaltando: "mesmo que algum juiz dê parecer a nosso favor". Algumas ações civis públicas estão em julgamento, mas continuam sem resposta.

Lúcia diz que os estudos realizados pela empresa responsável pelo relatório de impacto ambiental, a Engevix, não levaram em consideração diversos aspectos da biodiversidade local, apresentando dados fraudulentos. Para ela, estudos mais aprofundados certamente revelariam novas espécies ameaçadas, tanto na flora quanto na fauna da região. "Apesar de tudo isto não houve um procedimento por parte do governo para a paralização e reinício dos estudos".

Adriano Becker, vice-presidente e conselheiro da Amigos da Terra, comenta o estranho fato do levantamento ter sido realizado em apenas um mês e vinte dias, tempo insuficiente para a análise dos impactos sociais e ambientais de um empreendimento dessa magnitude. "Um absurdo total e completo", conclui. Mesmo tendo sido mencionada a existência de mata primária, quem lê o estudo não consegue imaginar a vegetação existente na realidade, segundo ele. Semana passada Adriano esteve na área e diz que a água ainda não atingiu a mata primária nem o Parque Municipal de Encanados, em Vacaria/RS. Agora é só uma questão de tempo. Até outubro toda a região deverá estar alagada sendo que a primeira turbina deve começar a gerar energia no final do mês. Em janeiro do próximo ano, a usina estará trabalhando com potência máxima.

Adriano e Lúcia dizem que a ONG ainda mantém sua luta, mesmo sendo derrotada nesta batalha. A Amigos da Terra acompanha todos os processos de licenciamento de hidrelétricas no Rio Uruguai. E briga para que a Usina de Paiquerê, em fase de licenciamento pelo Ibama, seja barrada e se torne uma unidade de conservação, para compensar os danos causados por Barra Grande. De acordo com Lúcia, esta seria a última área similar em termos de importância para a preservação da floresta.

Os problemas causados pela inundação da barragem vão além de questões ambientais. Cerca de 2.500 famílias, de pequenos e médios agricultores e de trabalhadores rurais sem-terra, serão diretamente atingidas. André Sartori, presidente do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB -, afirma que muitas destas famílias dependem da região para o sustento. Elas tiveram que abandonar o local, "mas a sua criação ainda está lá", diz, referindo-se aos animais e as plantações. André confirma que o alagamento teve início no dia 5 de julho e que 40% da área já foi atingida. Ele diz que a tradicional enchente que ocorre entre os meses de setembro e outubro, conhecida como "enchente de São Miguel", deve completar o limite da barragem.

A Baesa, empresa que detém a concessão da usina, defende-se dizendo que as acusações que vem sofrendo por ONGs ambientalistas não levam em conta os dados científicos e técnicos levantados em cinco anos de estudos e pesquisas, além do Plano Básico de Análise Ambiental implantado no projeto. Em seu site, a empresa divulga uma nota intitulada "Esclarecimentos sobre as ações ambientais realizadas no empreendimento". (veja no link abaixo)

Municípios que serão afetados:

Santa Catarina: Anita Garibaldi, Cerro Negro, Campo Belo do Sul, Capão Alto e Lages.

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