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Urnas indígenas correm perigo se não forem retiradas logo

A Crítica, Cidades, p. C5
02 de Jun de 2004

Urnas indígenas correm perigo se não forem retiradas logo
Técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmam que os artefatos estão um sério risco e precisam ser levados, urgentemente, para um local adequado. Exposição ao clima está danificando as peças

Se demorar muito o processo de retirada das urnas funerárias de aproximadamente 2 mil anos encontradas no sítio São Francisco, no ramal do Brasileirinho, na Zona Leste, de propriedade do cantor Tony Medeiros, o Sol e as chuvas podem destruir o material arqueológico. A informação é do técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Melo, durante inspeção feita ontem no local pelo Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).
A primeira urna foi descoberta pelo próprio cantor, no dia 24. No outro dia, o coordenador do laboratório de arqueologia do Museu Amazônico, Carlos Augusto da Silva, esteve na área e identificou vestígios de outra urna inteira, ainda totalmente encoberta, além de fragmentos de urnas diferentes e materiais líticos.
Após uma semana, a urna parcialmente enterrada na área de terra preta está se partindo. "Ela já está diferente da última vez que estivemos aqui", afirmou Tony Medeiros. Para o técnico da Funai, o terreno do cantor é um sítio arqueológico e, por isso, deve ser preservado e protegido. "Infelizmente, a nossa sociedade não respeita nem os índios vivos, quanto mais os extintos", declarou, comentando que os trabalhos arqueológicos, como a retirada das urnas, devem ser iniciados o mais rápido possível.
Técnico
Hoje mesmo o Iphan deve enviar um técnico para proteger as urnas encontradas no sítio de Tony Medeiros, enquanto espera o dia da remoção. A superintendente do órgão, que é responsável por fiscalizar e proteger o patrimônio arqueológico, Bernadete Andrade, informou que o especialista em arqueologia chega a Manaus hoje para analisar as urnas encontradas no Conjunto Nova Cidade, no bairro da Cidade Nova, Zona Norte, e fará a retirada do material do São Francisco, ainda sem data prevista.
Bernadete enfatizou a importância do material arqueológico. "Essas urnas são fontes primárias para compreendera história do nosso País", frisou. Ela informou que qualquer pessoa que encontrar material dessa natureza deve ligar para o Iphan pelo telefone 633-2822.0 órgão tomará as medidas necessárias para a proteção e preservação do patrimônio. "Esses materiais são achados fortuitos que pertencem à União e está previsto em legislação", concluiu.
As urnas funerárias com cerca de 2 mil anos de idade foram encontradas no sítio São Francisco, no dia 25. A primeira delas foi descoberta pelo cantor de toadas Tony Medeiros, um dos donos do terreno. Na ocasião, o coordenador do laboratório de arqueologia do Museu Amazônico, Carlos Augusto da Silva, esteve no local e identificou vestígios de outra urna inteira, ainda totalmente encoberta, além de fragmentos de urnas diferentes.
A urna localizada por Tony está parcialmente enterrada em um areial, que dificulta sua remoção.
Destaque
Trinta mil peças fazem parte do acervo do Museu da Amazônia, administrado pela Ufam. Elas estão disponíveis para visitação. O museu fica na rua Ramos Ferreira, 1036, Centro, e funciona das 8h às 12h e das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira. O telefone é 234-3242.

Origem está indefinida
Os pesquisadores ainda não concluíram a que povo pertencia o cemitério indígena localizado no sítio São Francisco. Manaus era habitada pelos manaos e barés, mas talvez tenha vivido aqui um povo desconhecido, anterior a eles. As duas urnas já identificadas distam quatro metros uma da outra. Os arqueólogos acreditam que, sob a areia, próximo a elas, haja uma grande panela de barro, usada pelos indígenas para transportara bebida consumida no ritual de sepultamento.
Acredita-se que somente os chefes indígenas eram enterrados em umas funerárias. Os corpos deles eram descarnados e cremados. Os restos da cremação, geralmente pedaços do crânio e do fêmur, eram colocados em urnas de barro cozido. Algumas delas, como a encontrada por Tony Medeiros, eram adoradas com pinturas.
Ano passado, uma equipe do Iphan fez uma descoberta nas escavações da Praça Dom Pedro II, que ajuda a explicara resistência das urnas. Eles encontraram barrotes com cipós presos a uma urna, que foram usadas para colocá-la no fundo da terra Os indígenas faziam buracos de cerca de dois metros de profundidade, com a largura semelhante a da própria urna. Depois, eles forravam essas cavidades, verdadeiros moldes, com cinza. Isso ajudava a diminuir o impacto da urna na terra e melhorava a acomodação dela.

A Crítica, 02/06/2004, Cidades, p. C5

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