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Universo quase desconhecido

A Crítica-Manaus-AM
23 de Dez de 2001

Os povos indígenas do Brasil são, em sua maioria, um universo que mistura desconhecimento com a visão romântico-exótica do País em relação a essas populações. O antropólogo Beto Ricardo, do ISA, autor de um dos trabalhos publicados em "Biodiversidade na Amazônia Brasileira", afirma que se um estudante ou professor desejasse saber algo mais sobre os índios brasileiros contemporâneos teria muita dificuldade.

Ele aponta como uma das razões à manutenção desse cenário o reduzido espaço à expressão indígena no cenário cultural e político do País e lembra que são raros os registros em língua nativa da arte oral. Para o pesquisador, o público leigo interessado em conhecer um pouco mais sobre os índios se depara com um abismo cultural e "terá de se contentar com uma bibliografia didática, frágil, quando não preconceituosa ou desinformada".

A demografia indígena brasileira segue a mesma tendência. Ricardo observa que os dados do último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados em 1991, aparecem sem explicações mais aprofundadas, como estimativas e associados às terras indígenas. Ele diz que se é verdade que está afastada a hipótese do desaparecimento físico dos índios no Brasil é verdade, igualmente, que o futuro das populações indígenas dependerá, em primeira instância, mas, apenas em parte, deles próprios.

"Por via de regra reduzidos demograficamente e sujeitos a pressões crescentes das frentes de expansão econômica que avançam sobre as terras e os recursos naturais, os índios se vêem imersos em correlações de forças no nível regional bastante desfavoráveis e contra as quais as eventuais coalizões de apoio (meios de comunicação, ONGs nacionais e internacionais, ações judiciais, projetos aplicados), não logram reverter a longo prazo", afirma o antropólogo.

Para Ricardo, a aproximação dos projetos indígenas às estratégias não indígenas de uso sustentado de recursos naturais, sejam públicas ou privadas, aumentaria em tese as chances de os índios solucionarem favoravelmente, no futuro, o domínio de terras extensas com baixa demografia. Esse caminho, de acordo com o pesquisador, contribuiria muito à conservação e ao uso sustentado da biodiversidade, especialmente na Amazônia.

O antropólogo defende como "imprescindível" uma clara política compensatória por parte do Estado capaz de assegurar direitos constitucionais e valorizar a sociodiversidade nativa

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