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Universitários indígenas contam como superam os obstáculos

Brasil Notícia - www.brasilnoticia.com.br
Autor: Thaís Raeli
31 de Mai de 2015

Cursar o ensino superior é um grande desafio para muitas pessoas. O tempo dedicado à família, ao trabalho, a falta de incentivo de parentes e amigos e até a falta de recursos são muitos dos obstáculos para superar. Se você passa por esse dilema, conheça histórias de pessoas que enfrentaram muito mais do que isso e comemoram os bons resultados.

Em Cuiabá, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), através do Programa de Inclusão Indígena (ProInd) já recebeu mais de cem estudantes de aldeias indígenas desde 2008. As barreiras vão desde o descompasso entre os modelos de ensino até a diferença de idiomas, já que 100% dos estudantes do programa são oriundos de aldeias e 80% deles são falantes da língua do seu povo.

Segundo a professora Carmen Lúcia da Silva, coordenadora de Ações Afirmativas da UFMT e do ProInd, mesmo aqueles que têm o português como primeira língua, têm dificuldades no cotidiano universitário para lidar com o português acadêmico, entender como funciona a estrutura universidade, ao mesmo tempo que tentam entender e conhecer a cidade.

"Soma-se a esses desafios, a sobrevivência na cidade onde tem que alugar casa, andar de ônibus, atravessar ruas e avenidas, comprar os alimentos", acrescentou Carmen.

Para amenizar as dificuldades e os preconceitos, Adriana Uleiro Kavopi, 25 anos, escolheu cursar serviço social. Ela é da etnia Kurâ Bakairi e sua aldeia fica na cidade de Paranatinga. "Acredito que o conhecimento adquirido por um indígena é a melhor arma de defesa para sua comunidade, pois através dele se consegue buscar direitos e fazer com que sejam efetivados", disse.

Adriana não é a primeira a cursar o ensino superior, pois, em sua aldeia, existem professores universitários, enfermeiros e nutricionistas. No caso de Soilo Urupe Chue, 32 anos, da etnia Chiquitano em Porto Esperidião, ele é o primeiro a driblar esses obstáculos e escolheu estudar psicologia. "Acredito que parte do conhecimento possa sim ajudar nossa aldeia. Digo parte porque a outra parte ou agride, ou é contra nossos princípios. Cabe a mim ou cada estudante indígena selecionar o que convém e o que não convém trabalhar na aldeia", explicou.

Soilo usa como inspiração uma frase que chama de norteadora: "Guerreiros da caneta" para definir as dificuldades que enfrentam. E ainda acrescentou: "Nosso cotidiano aqui árduo. Começando desde a chegada da aldeia até aqui e durante todo o processo de estudo. Dedico o máximo para acompanhar os demais estudantes da turma. Já sofri preconceitos por parte de docentes e de outros estudantes. Mas, mesmo com muitos empecilhos nunca desisto de lutar. E por isso continuo firme estudando".

Preocupada com a saúde dos povos indígenas, a nutricionista, Idaleuza Calomezoré de Souza, 26 anos já coloca em prática o que sabe. Ela é de Barra do Bugres, da etnia Umutina. "Nossa alimentação está se modificando. O consumo de alimentos industrializados está aumentando e cada vez mais e algumas pessoas já apresentam doenças como pressão alta, isso foi o maior motivo da escolha. O conhecimento adquirido foi muito além do que eu esperava, e pude contribuir para orientar as comunidades indígenas na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como diabetes, hipertensão, que por sua vez possuem números consideráveis nas aldeias".

Depois de vencer o desafio da faculdade, os indígenas estão indo além. Libério Uiagumeareu, 26 anos é da etnia Boe-Bororo da aldeia Meruni, é formado em direito é está cursando o mestrado em direito indígena. "Essa nova vivência e novos conhecimentos na verdade fortalece ainda mais nossas raízes, por ver a carência que o povo possui, e pela invisibilidade perante a sociedade brasileira em todas as suas formas", analisou.

Libério acha intrigante as diversidades e isso estimula com que cada vez mais busque conhecimento. "É um suporte que temos também para uma construção de uma sociedade mais solidária com as sociedades indígenas, pois nunca devemos perder a essência que nos dá um diferencial cultural e social. Meu objetivo profissional é me tornar um procurador federal, e também lecionar, é um dos objetivos também que tenho logo que ingressei na academia".

Dos desafios da aldeia para as cidades

Com uma média de 100 demissões por dia no último mês, Macaé, no interior do Rio de Janeiro, sofre os efeitos da crise econômica nacional, principalmente no que se refere ao setor de petróleo. O levantamento é do Sindicato do Trabalhador Offshore (Sinditob) que também aponta que a crise de 2015 é o pior momento nos últimos 30 anos.

Nessa avalanche de demissões, João Vitor Marinho, 22 anos, se mantém no mercado como estudante de Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo e sua especialização o ajudou a contornar o momento de menores oportunidades no mercado de trabalho. "O caminho é muito árduo, o mercado exige profissionais qualificados. Com certeza todo esforço valerá a pena, todas as noites sem dormir dedicadas aos estudos, os anos longe da família e amigos", desabafou. Para o estudante, a maior dificuldade do ensino superior foi sair do Rio de Janeiro, onde morava com a família e aos 17 anos ter que morar sozinho, com todas as responsabilidades.

A experiência de João Vitor é confirmada pela Universidade Estácio de Sá que realizou uma pesquisa sobre oportunidades e crescimento salarial após ensino superior. No levantamento, foi constatada a relação direta entre o aumento da taxa de empregabilidade e jovens que fizeram ensino superior. No estudo, realizado ao longo de 2014, foram entrevistados 3.416 ex-alunos formados na instituição em 2013 em todas as regiões geográficas do país e em mais de 100 cursos diferentes.

O estudo mostrou que após um ano de formados, o índice de empregabilidade entre os alunos atinge 78%, mas em algumas carreiras como Tecnologia da Informação e Gestão, esse percentual atinge mais de 90%. Outro ponto de destaque são os cargos no qual os profissionais se colocam no mercado, que se mostram funções de mais responsabilidade como analistas, profissionais liberais, empresários e coordenadores.

Para Paulo Amaral, gerente de Pesquisa do Grupo Estácio, o sucesso profissional e financeiro dos alunos, depois da graduação concluída, depende também de outros elementos. Por isso, os jovens são estimulados durante o curso a realizarem projetos, através de estágios e qualificações especializadas, além de desenvolverem competências essenciais para a atuação no mercado de trabalho. "Muito além do conhecimento adquirido em uma graduação, os alunos têm personalidades e habilidades diferenciadas. Por isso, nosso trabalho é de ir além do ensino em sala de aula, dando aos nossos alunos informações críticas e relevantes para a sua formação acadêmica. E esse entendimento pode ser decisivo para o sucesso profissional dele", afirma Paulo Amaral.

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