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Unicamp pesquisa cultivo de medicinais

OESP, Agricola, p.G4
25 de Ago de 2004

Unicamp pesquisa cultivo de medicinais
Pesquisadores tentam adequar ao cultivo carqueja, estévia e guaco, entre outras plantas
Silvana Guaiume
O consumo de plantas medicinais no Brasil, dos chás vendidos em feiras livres ao medicamento fitoterápico pré-elaborado disposto nas prateleiras das farmácias, movimenta um mercado estimado em R$ 500 milhões por ano, conforme o Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, com sede no Rio de Janeiro (RJ). A variedade de matéria-prima nacional é imensa, mas o cultivo em escala ainda é pouco expressivo.
Pesquisadores do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trabalham para mudar esse cenário. "Trata-se de um mercado potencial quase inexplorado no País", afirma o agrônomo e pesquisador do CPQBA, Ílio Montanari Júnior. De acordo com ele, das 55 mil espécies de plantas brasileiras, entre 10% e 20% são medicinais.
A obtenção da matéria-prima, entretanto, é feita por meio de extrativismo, o que tem comprometido a produção natural de certas espécies. O pesquisador comenta que a espinheira-santa e a fáfia, ou ginseng brasileiro, estão em processo de extinção no Paraná por causa da exploração intensiva. "A demanda por matéria-prima resulta em problemas ecológicos, que por sua vez gera demanda na área agrícola", disse.
Sementes padronizadas - A produção em escala, porém, exige sementes padronizadas, ou domesticadas, como explica o agrônomo. Na natureza, a população de uma mesma espécie tem diferentes características genéticas e a produção não ocorre simultaneamente. "Isso é um empecilho em termos de cultivo porque é preciso padronizar a safra", diz Montanari Júnior.
Domesticar a espécie é transformá-la geneticamente para que se comporte de maneira adequada em um ambiente agrícola. O processo de tornar uma espécie selvagem em doméstica consome em média dez anos de pesquisas, segundo o agrônomo. Atualmente, o trabalho mais adiantado do CPQBA é com a carqueja. O pesquisador acredita que a planta estará pronta para ser cultivada em escala comercial em quatro anos. "Trabalhamos com seleção de parentais. Escolhemos os pais, analisamos os filhos e escolhemos novos pais para a produção agrícola", comenta.
Em escala - Além da carqueja, o CPQBA está desenvolvendo projetos com estévia, espinheira-santa, guaco, fáfia e erva-baleeira, todas plantas nativas brasileiras. "O País tem demonstrado interesse maior nelas", comenta o engenheiro agrônomo. Ele acrescenta que o cultivo em escala no Brasil ocorre pontualmente, como no sul do Paraná, com plantas nativas de outros países, chamadas exóticas. Entre elas destacam-se camomila, calêndula, alecrim, sálvia, tomilho e menta.
"São cultivares pequenos, mas intensivos, mantidos por imigrantes poloneses, alemães e italianos", diz Montanari Júnior. Ele comenta que a maioria das espécies exóticas já é plantada em volume comercial fora do Brasil e por isso dispõe de métodos de cultivo e sementes para produção em escala.
A maior parte dessa matéria-prima ainda é importada pelo Brasil por causa da reduzida área de cultivo no País, diz o pesquisador. "Assim como o mercado das nativas, o das exóticas é potencial", afirma. Ele diz que, a partir do melhoramento das plantas nativas, os ganhos agrícolas serão "muito grandes". As espécies que estão sendo estudadas no CPQBA foram escolhidas a partir da demanda ou da urgência em evitar sua extinção.
Espaço para cultivo - O presidente do Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, Alex Botsari, defende que há muito espaço para a expansão do cultivo no Brasil. Mas explica que hoje não há estatística sobre produção agrícola. "A produção é artesanal, localizada e não ocupa grandes áreas. As iniciativas são isoladas e difíceis de quantificar", diz. Botsari comenta que é preciso reverter o conceito de que o País não tem tradição no cultivo de plantas medicinais. Montanari Júnior complementa que o cultivo de espécies nativas, além de abastecer o mercado nacional, irá abrir portas para a exportação.

OESP, 25/08/2004, p. G4

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