UnB identifica lagarto raro

UnB identifica lagarto raro
Expedição à reserva ecológica da Paraíba descobre espécie típica do cerrado que pode abrir outras frentes de pesquisa sobre a região

Rodrigo Couto
Especial para o Correio

Considerado um dos biomas - região com o mesmo tipo de clima e vegetação - mais ricos em biodiversidade do país e do mundo, o cerrado pode abrigar mais uma nova espécie de lagarto. Expedição científica à Reserva Biológica Guaribas (Rebio), localizada entre os municípios de Mamanguape e Rio Tinto, na Paraíba, a 52km de João Pessoa, fez a descoberta de uma nova espécie de lagarto. Com 8cm, é do gênero Cnemidophorus, tem o ventre e a cauda avermelhados, ao contrário das demais espécies, que apresentam ventre esbranquiçado, azulado ou esverdeado.
As evidências de que se trata de uma nova espécie de Cnemidophorus são muito fortes. No entanto, as suspeitas somente poderão ser confirmadas depois de um estudo detalhado, envolvendo, inclusive, o seqüenciamento do DNA dos animais capturados durante a expedição, realizada no início de outubro. A viagem foi organizada pelo cientista e professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), Guarino Colli.
Segundo o professor Guarino Colli, a descoberta de novas espécies agrega valores de conservação. "O feito não só reforça a necessidade de realização de inventários no cerrado, como também estimula a realização de pesquisas, na medida em que estudos recentes têm revelado um grande número de espécies de répteis no ecossistema", diz.
Durante a expedição, os professores Guarino Colli e Ayrton Péres Jr., da UnB, e Daniel Mesquita, da Universidade Federal da Paraíba, colocaram em prática estudos para saber o que acontece com os animais que vivem em fragmentos naturais do cerrado. Os animais coletados na reserva foram depositados na Coleção Herpetológica da UnB, cujo acervo reúne mais de 50 mil espécimes.
Financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a expedição levou 20 estudantes da UnB à Paraíba, que participaram de aulas práticas da disciplina biologia dos répteis. Também participaram do curso seis alunos da Universidade Federal da Paraíba, entidade parceira da UnB e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no projeto.
Pesquisas e levantamentos de fauna e flora nas unidades de conservação têm colaborado de várias formas para a produção científica brasileira e para a melhoria da qualidade de vida da população. O ICMBio é um dos órgãos governamentais que estimulam a produção desse tipo de pesquisa por meio de parcerias institucionais.
Rebio Guaribas
Criada em 1990, essa reserva biológica tem o objetivo de proteger um dos últimos redutos florestais de Mata Atlântica da Paraíba. A região também abriga espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção, de fauna aquática, como o pexe-boi-marinho. Com um total de 4.028,55 hectares, a Rebio preserva um dos últimos grupos de macacos-guariba do estado. A Rebio é administrada pelo ICMBio.
Além de fazer a coleta dos animais, o professor Guarino deu aulas práticas da disciplina biologia dos répteis aos 20 estudantes que o acompanharam na expedição. Todas essas atividades selaram a primeira parceria envolvendo o ICMBio/Rebio Guaribas, a UnB e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) na área de pesquisas e estudos científicos.

CB, 27/11/2008, Cidades, p. 40