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Uma visita aos xavantes (final)

Diário de Mato Grosso-Cuiabá-MT
14 de Abr de 2005

A visita que fizemos aos xavantes completou o trabalho de pesquisar as mortes de índios na região do Mato Grosso. Mas a audiência pública que realizamos em Cuiabá revelou que ainda há muito caminho a percorrer. Recebemos denúncias sobre a situação dos Cinta-Largas, na fronteira com Roraima e também sobre os carajás.

Terça feira é o Dia do Índio. Talvez tenhamos a oportunidade de discutir o tema. O governo considera que está tudo bem. Aumentou o número de terras demarcadas nas últimas décadas e a população indígena subiu para 460 mil pessoas.

O aumento de terras demarcadas e o crescimento da população não podem ser considerados de forma absoluta. Em primeiro lugar porque o índice de mortalidade (76 por mil) entre os xavantes é muito alto, comparado com a população branca.

A outra questão é esta: quem são os índios que restarão, até que ponto suas culturas foram minadas e hoje vivem um processo de decadência que se revela, ora no alcoolismo, ora no grande número de suicídios, como os dos guaranis?

Aldeia Xavante, 2005
Aldeia Xavante, 2005

O orçamento da Funai é de R$10 milhões. O governo no conjunto, se consideramos todos os ministérios que se envolvem com o tema, deve gastar em torno de R$600 milhões por ano. O principal problema é saber se esse dinheiro é bem gasto. No caso da Funasa, grande parte dissolve-se em viagens, seminários e outros gastos dos burocratas.

Um momento decisivo da política indigenista no Brasil seria articular tudo o que o governo faz e gasta para que não haja dispersão. A morte das crianças em Dourados é um bom estímulo para que o governo mostre a capacidade de articular suas forças.

A situação dos índios é grave. Os machalis já entraram na OEA denunciando desrespeito aos direitos humanos, na sua aldeia em Santa Helena de Minas, no nordeste do Estado. Quase todas as etnias reclamam. No Vale do Javari na Amazônia também há notícias de descaso. Para não falar também nos Ianomamis, que na fronteira com a Venezuela, tem grandes dificuldades de serem atendidos.

Os xavantes foram convidados para apresentarem sua dança num festival de Veneza. Em Paris há uma exposição de arte plumária, no contexto do ano do Brasil na França.

A sociedade brasileira usa a riqueza cultural indígena como se fosse sua mas na hora de enfrentar seus problemas cotidianos, volta a costas como se fossem uma tribo do Afeganistão.

O Dia do Índio é importante para denunciar esta hipocrisia.

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