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Um terco dos brasileiros e miseravel, diz FGV

OESP, Cidades, p.C3
16 de Abr de 2004

Um terço dos brasileiros é miserável, diz FGV Categoria inclui quem tem renda inferior a R$ 79; mudar situação exigiria R$ 2,3 bilhões
KARINE RODRIGUES
RIO - Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgado ontem estima que, se cada brasileiro situado acima da linha de pobreza contribuir com R$ 14,04 por mês, será possível reunir os R$ 2,3 bilhões necessários para eliminar a miséria. Segundo o autor da pesquisa, Marcelo Neri, 33,15% dos brasileiros estão nessa categoria - têm renda per capita inferior a R$ 79,00.
Neri alerta, porém, que a transferência de recursos é insuficiente para reduzir os problemas provocados ou influenciados pela carência econômica, como a violência. A solução requer a efetivação de políticas públicas que, avalia ele, estão mal distribuídas no País.
"O ônus da crise está concentrado na região metropolitana e na periferia, mas o bônus vai para o interior. A questão é que os programas sociais estão sendo realizados de forma irregular", diz. "Na cidade grande, há regiões administrativas com situações desiguais. A separação entre elas é apenas formal, basta atravessar uma rua. Não adianta uma região ter bom policiamento se a outra não tem."
Neri acrescenta que, desde 2000, o porcentual de miseráveis cresceu consideravelmente nas periferias. Nos Estados do Rio e de São Paulo, entre 1996 e 2000, a maior variação do índice de miseráveis ocorreu nas capitais:
10,7% (RJ) e 26% (SP). De 2000 a 2002, o quadro mudou completamente. A variação maior concentrou-se na periferia: 18,25% e 10,43%. "São Paulo é a melhor face da crise que existe nas grandes metrópoles. Entre 1991 e 2000, enquanto a taxa de miséria caiu 19% no município do Rio, em São Paulo cresceu cerca de 50%."
O economista ressalta que, além do desemprego e da falta de políticas públicas, os miseráveis, especificamente os moradores de favelas, podem estar sendo estigmatizados. Um habitante da Lagoa, uma das áreas mais ricas do Rio, tem renda familiar per capita cerca de 180% superior à de quem mora na Rocinha. E mesmo quando os dois têm a mesma idade, sexo, cor e nível educacional, a disparidade é muito grande: 90%.

OESP, 16/04/2004, p. C3

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