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Um pasto com lavoura e árvores

OESP, Agrícola, p. 12
27 de Ago de 2008

Um pasto com lavoura e árvores
Integração entre pasto, grãos e floresta é boa saída para reter carbono no solo e ajudar a reduzir o efeito estufa

Tânia Rabello e Fernanda Yoneya

Diante do aquecimento global, agricultores podem, desde já, adotar práticas sustentáveis, que eliminem a emissão de gases do efeito estufa e que visem à conservação do solo. Plantio direto, curvas de nível contra erosão, integração lavoura-pecuária e sistema agrossilvipastoril - além da eliminação das queimadas e do desmatamento - são algumas práticas cuja tecnologia está dominada.

"Se recuperarmos os 50 milhões de hectares de pastagens degradadas com o sistema de integração lavoura-pecuária ou o agrossilvipastoril, que inclui o plantio de árvores, seríamos os maiores conservadores de carbono no solo do mundo", diz o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão João Kluthcouski. "Um pasto degradado não tem troca com o ambiente, não conserva carbono e suporta menos de 1 animal/hectare, e uma boa pastagem produz alimento, madeira e emprego."

GRANDES CENTROS

Kluthcouski destaca outra questão: "Essas pastagens estão próximas aos grandes centros consumidores; então, seria desnecessário desmatar a Amazônia, no Norte do País, para plantar soja e criar gado."

O sistema agrossilvipastoril combina lavoura, árvores e pastagem em uma mesma área. "A introdução estratégica de árvores garante melhor fluxo dos serviços ambientais, como a manutenção da umidade do ar, estabilização de temperatura e redução da velocidade de brisas e ventos", diz pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Odo Primavesi. Em termos de seqüestro de carbono, Primavesi explica que "as árvores acumulam de 240 a 640 toneladas de carbono por hectare."

Portanto, o acúmulo de carbono no solo pode ocorrer com reflorestamentos, pastagens e lavouras bem manejadas e rotação de culturas. "Pode-se reduzir as emissões evitando queimadas e não revolvendo o solo, especialmente quando se transforma uma área de pastagem degradada em lavoura", diz. "O eucalipto, por exemplo, acumula 16 toneladas de matéria seca de madeira/hectare/ano. Em seis anos, haveria o acúmulo de 96 toneladas/hectare de matéria seca ou 192 toneladas de CO2/hectare no solo."

Ele lembra, porém, que há limite de acúmulo de matéria seca no solo e acima dele. "Nos trópicos o calor acelera a degradação da matéria orgânica e a liberação de CO2. A saída seria controlar a temperatura com sombra ou manutenção permanente da cobertura do solo."

Braquiária, a grande mitigadora

Tânia Rabello e Fernanda Yoneya

Os capins do gênero Brachiaria têm grande potencial para retirar CO2 da atmosfera. Num cenário em que 40% das pastagens brasileiras são compostas de braquiária, essa gramínea, se bem manejada, tem potencial de ser um grande seqüestrador de CO2. É o que consta na tese de doutorado Estrutura e Estabilidade da Matéria Orgânica em Áreas com Potencial de Seqüestro de Carbono no Solo, defendida em 2007 por Aline Segnini, do Instituto de Química de São Carlos/USP, sob orientação do pesquisador Ladislau Martin Neto, da Embrapa Instrumentação Agropecuária. Conforme a tese, pesquisadores demonstraram que, após 27 anos de retirada de vegetação de cerrado e da instalação de pastagens de braquiária, o estoque de matéria orgânica no solo foi reposto pela forrageira e tendeu a aumentar, por meio da decomposição de seus resíduos aéreos e raízes. E, a mesma área, após dez anos de adubação, acumulou mais carbono do que o cerrado nativo. "Lógico que não se está propondo a retirada do cerrado e o cultivo de braquiária, mas a recuperação de pastagens", diz Martin Neto.

Pecuarista produz quase tudo na fazenda

Tânia Rabello e Fernanda Yoneya

O pecuarista José Luiz Niemeyer dos Santos adota, há mais de 50 anos, em sua propriedade, em Guararapes (SP), manejo conservacionista. Na fazenda, de 1.800 hectares, tem plantio direto, integração lavoura-pecuária, terraceamento contra erosão, áreas recuperadas de nascentes e reserva legal de 400 hectares.

Santos já perdeu a conta de quanto tempo adota o plantio direto na palha e a integração lavoura-pecuária. "A qualidade do solo melhorou, pude elevar a lotação do pasto e o bem-estar dos animais aumentou", afirma. "Depois de três plantios, com manejo intensivo, volto com o pasto", explica, destacando que planta, por ano, cerca de 40 mil mudas de árvores nativas para reflorestar as áreas de preservação.

O produtor cultiva 100 hectares de milho e 100 de sorgo e a produção vira silagem para o gado. "Como aproveito a safra de grãos na pecuária, não gasto com frete, pois tudo é feito aqui dentro", diz Santos, cujo plantel, nesta época de seca, chega a 6 mil cabeças. A integração também barateou o confinamento, "pois parte da alimentação é produção própria", diz ele, que confina de 2 mil a 3 mil cabeças/ano.

INFORMAÇÕES: No site: www.embrapa.br

OESP, 27/08/2008, Agrícola, p. 12

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