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Um negócio no qual tudo ainda é artesanal

OESP, Agrícola, p. 7
09 de Dez de 2009

Um negócio no qual tudo ainda é artesanal
Além disso, diversidade e complexidade das matas nativas requer grande conhecimento de quem está no ramo

Leandro Costa

O processo complexo e altamente artesanal de coleta de sementes é um dos fatores que impedem que os viveiristas ganhem escala. "Com as sementes tudo é manual, não há nada mecanizado", diz o agrônomo Armando Portas, diretor do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da Cati, da Secretaria de Agricultura paulista. "Além disso, a coleta requer muito conhecimento sobre a peculiaridade de cada espécie, como a época ideal para recolher a semente. E depois vem a tecnologia de germinação", continua. "Tudo isso dificulta a produção em massa."

"Além disso, para atuar nessa área é preciso muita disposição para acordar de madrugada e se embrenhar no meio do mato para extrair as sementes", diz o consultor Welle.

"Há espécies que estão praticamente extintas. Então é difícil encontrar na mata 12 matrizes diferentes desta mesma espécie", diz o especialista em reflorestamento Marcio Cardoso. Coletor de sementes há 15 anos, ele é supervisor da Agromineira, viveiro de Holambra (SP). A Agromineira tem capacidade para 1 milhão de mudas por ano, de pelo menos 150 espécies nativas.

Ele explica que há várias restrições, como a proibição de colher sementes em matas virgens e a coleta de apenas um terço do que a árvore produz. "Isso torna o custo da captação mais alto. E nem sempre o mercado está disposto a pagar por isso", explica Welle.

O técnico agrícola e responsável pelo viveiro Ambiental Nativas e Exóticas, de Araraquara (SP), Emilson Rabelo, também crê que o fato de o processo ser manual seja uma barreira para a produção de mudas em volume suficiente. Coletor há 11 anos, ele diz que poucos são os viveiros capazes de fornecer quantidade grande de mudas de 80 espécies diferentes. "Quem quiser isso vai rodar diversos viveiros." Ele diz que para atender a essa exigência é preciso que o viveiro cultive mudas de até 200 espécies. "Isso porque algumas só produzem sementes ano sim e ano não, outras a cada 2 anos."

Para aumentar a quantidade de pessoas capacitadas a trabalhar com a coleta, o Clube da Semente, ONG focada na coleta e distribuição de sementes de espécies nativas de todas as regiões do Brasil, tem buscado, por meio de programas de qualificação, criar comunidades coletoras. "Temos hoje 10 mil pessoas atuando no País. Até o fim de 2010 deveremos ter qualificado mais 15 mil, diz o responsável pela área de coleta de sementes da ONG, Antônio Fernandes.

Profissão: coletor de sementes
Conhecimento e disposição são essenciais

Leandro Costa
Araraquara (SP)

Curiosidade inata para conhecer árvores nativas e suas espécies, disposição para acordar antes de o sol nascer, entrar na mata e ficar o dia todo colhendo e identificando sementes. Essas são as principais características de um bom "mateiro", ou coletor de sementes, na opinião de quem faz isso há mais de uma década e hoje até ensina o ofício para agrônomos e biólogos.

Profissional disputado no mercado, o coletor Emilson Rabelo, de Araraquara (SP), afirma que o dia a dia da profissão é duro e que não se adquire o conhecimento necessário para se diferenciar no mercado de trabalho da noite para o dia. "O coletor primeiramente tem que gostar muito do que faz, pois terá de enfrentar a mata, de se sujar e, às vezes, se expor a alguns riscos, como o de cair de uma árvore ou se deparar com um animal perigoso."

Ele frisa ainda que a atividade envolve também muita pesquisa. "Sempre que se encontra uma espécie desconhecida é preciso recolher uma amostra e buscar informações sobre ela na literatura", explica. Isso será recorrente nos primeiros dois ou três anos de profissão.

Afinal, a variedade da flora brasileira é imensa e leva tempo para conhecer um pouco dela. Na visão de Rabelo, faltam cursos de qualificação para preparar e até incentivar o ingresso de pessoas na profissão, que tende, na visão dele, a ser cada vez mais requisitada à medida que o volume de projetos de reflorestamento começar a crescer.

"Hoje isso já acontece, os poucos profissionais que existem no mercado são disputados por viveiros, pois sem esse trabalho eles acabam tendo que comprar sementes dos concorrentes que têm uma equipe de coletores."

OESP, 09/12/2009, Agrícola, p. 7

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