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Um índio na universidade

O Estado do Paraná -Curitiba-PR
Autor: Lyrian Saiki
28 de Mar de 2001

O desafio de ingressar em uma faculdade e concluir o curso superior pode não significar muito para um jovem de classe média. Para o índio caigangue Sauri Parej, 38 anos, no entanto, ter um diploma universitário representa muito mais do que a mera profissionalização: ele é o primeiro índio brasileiro com formação superior; o segundo do mundo. Sauri está prestes ainda a conquistar outro mérito: ser o primeiro índio a ter uma pós-graduação. Formado em Filosofia e História, ele cursa agora a pós de Filosofia da Educação na faculdade de Palmas, sul do Paraná. "Nesse mundo de competição, o índio também tem que estudar, progredir", acredita. Até o diploma chegar às suas mãos, Sauri teve de enfrentar muitos desafios, entre eles o idioma e a cultura diferentes. "Os colegas de sala diziam que eu falava errado, tinham preconceito. Até a professora me cortava muito", lembra. Mesmo assim, ele não desistiu. Terminou o segundo grau e se formou no magistério. Tornou-se professor de crianças da sua aldeia - a Mangueirinha, no sudoeste do Estado - e, depois de nove anos sem estudar, prestou vestibular e passou. "Meu pai era analfabeto mas sempre me incentivou muito a estudar. Eu lia bastante, emprestava livros." Durante quatro anos, Sauri viajou de Mangueirinha para Palmas - cerca de 200 quilômetros, ida e volta - todos os dias. Na parte financeira, contou com a ajuda da Funai. "Sofri, passei por obstáculos, mas valeu a pena". Pesquisa Com o diploma, o índio caigangue pretende fazer uma pesquisa minuciosa sobre as tribos indígenas, sua história, origens. "O que existe nos livros, na história do Brasil, é muito fraco. Fala-se muito sobre o descobrimento do País, mas pouco sobre o povo indígena", lamenta. Sauri sabe que é um dos poucos a buscar um sonho com tanto empenho. Acredita, porém, que no futuro os índios possam disputar o mercado de trabalho com os brancos. "A tendência é que o povo indígena estude cada vez mais. O principal, no entanto, é que ele não abandone sua cultura." Casado e pai de dois meninos, Sauri continua lecionando na aldeia. "Eu tento passar a eles a importância dos estudos, de ter uma profissão", conta.

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