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Um antiministro no Meio Ambiente

O Globo, Opinião, p. 3
Autor: FRANCO, Bernardo Mello
21 de Abr de 2019

Um antiministro no Meio Ambiente
O ministro que se empenha em destruir o que devia proteger

Bernardo Mello Franco

Oglobo.com.br/bernardo bernardomf
bmf@oglobo.com.br

Entre a eleição e a posse, o presidente Jair Bolsonaro desistiu de extinguir o Ministério do Meio Ambiente. Talvez fosse melhor ter mantido o plano original. A nomeação de Ricardo Salles transformou a pasta num playground da bancada ruralista. Ele atua como um antiministro, empenhado em destruir o que deveria proteger. A escolha do advogado paulista já foi uma provocação. Antes de assumir o cargo, ele foi condenado por improbidade administrativa, acusado de fraudar um plano de manejo para favorecer mineradoras. Fundador do grupo Endireita Brasil, candidatou-se a deputado pelo Partido Novo, financiado por fazendeiros e fabricantes de armas. Não se elegeu, mas arrumou uma boquinha no governo do capitão. Desde janeiro, Salles tem se dedicado ao desmonte do ministério. Acabou com a secretaria de mudanças climáticas e apoiou a transferência do Serviço Florestal Brasileiro e da Agência Nacional de Águas para outras pastas. O antiministro também se especializou em ameaçar e perseguir servidores. Em fevereiro, promoveu uma demissão em massa no Ibama. Cortou as cabeças de 21 dos 27 superintendentes regionais do órgão, responsável pelo combate ao desmatamento. Em março, transferiu a atuação do atacado para o varejo. Ele exonerou José Augusto Morelli, fiscal do Ibama que autuou Bolsonaro por pesca ilegal em 2012. O então deputado foi fotografado com a vara de pescar numa estação ecológica, mas alegou que estava no aeroporto. A multa foi cancelada no apagar das luzes do governo Temer.
Nos últimos dias, Salles radicalizou a caça aos servidores. Abriu processo disciplinar contra funcionários do ICMBio que não compareceram a uma reunião dele com parlamentares ligados ao agronegócio. A atitude levou o presidente do órgão a entregar o cargo. Em nota, servidores acusaram o ministro de trabalhar pela "destruição da gestão ambiental federal". O clima de intimidação tem produzido resultados. No início do mês, o presidente do Ibama se dobrou à pressão e autorizou um leilão de petróleo próximo a Abrolhos. Ignorou um parecer técnico que alertou para o risco de um vazamento atingir o paraíso de corais. No país de Mariana e Brumadinho, não parece exagero temer por uma nova tragédia em alto-mar.
Na quinta-feira, o governador Wilson Witzel disse "não acreditar" que as milícias sejam "a principal chaga do Estado". É difícil atribuir a frase a um déficit de informação. Quem acompanha o noticiário sabe que as organizações se tornaram mais nocivas do que o tráfico. Usam os mesmos métodos para praticar crimes, com a agravante de estarem infiltradas na polícia e contarem com o apoio de políticos.
O chefe da milícia da Muzema, onde um desabamento de prédios irregulares matou ao menos 20 pessoas, era o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira. Ele já foi homenageado pelo senador Flávio Bolsonaro, maior cabo eleitoral de Witzel no ano passado.
Ricardo Salles transformou o ministério num playground dos ruralistas. Sua meta é destruir o que devia proteger

O Globo, 21/04/2019, Opinião, p. 3

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