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Tupinambás começam hoje luta pela demarcação de terras

A Tarde-Salvador-BA
Autor: Ana Cristina Olivença
02 de Out de 2001

- Os índios contam com
apoio das igrejas e de órgãos oficiais
- Os índios tupinambás que vivem em Olivença, litoral sul de Ilhéus, iniciaram a luta pela
demarcação de suas terras, que, originalmente, vão do bairro do Salobrinho, às margens do
Rio Cachoeira, até a localidade do Maruim, na divisa de Ilhéus com Una. Marcados por uma
história de resistência, os tupinambás escolheram retomar a luta com uma peregrinação no
último dia 30 para relembrar o último massacre de que foram vítimas, em 1937, quando foi
assassinado o líder Marcelino e houve a dispersão do povo.
Com faixas, cartazes e o apoio das igrejas Católica e Evangélicas, da Caritas, Fase, Cimi,
Funai, Pastoral do Negro, das Comunidades Eclesiais de Base, sindicatos e partidos políticos
de esquerda, a comunidade indígena de Olivença marchou nove quilômetros até o local do
massacre, na Praia do Cururupe, onde dançaram o Toré e participaram de um culto
ecumênico, com a presença do bispo de Ilhéus, dom Mauro Montagnoli.
"Nós estamos juntos, apoiando a justa luta do povo Tupinambá de Olivença, pelo seu
reconhecimento étnico-cultural e pela demarcação de suas terras", afirmou Dom Mauro.
Segundo o representante da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e
Espírito Santo, Luís Titiá, os tupinambás já são reconhecidos e hoje estão agrupados em uma
aldeia com 18 comunidades. Titiá revelou, entretanto, que o governo precisa demarcar as
terras porque, durante a dispersão, muitos índios foram levados para a zona rural e acabaram
escravizados pelos fazendeiros invasores, para os quais trabalham e tentam sobreviver,
ganhando R$ 3,00 por dia.
"Nós não somos figuras que aparecem nas revistas em quadrinhos e nos livros de história",
afirmou a cacique da aldeia Valdelice Amaral de Jesus. Segundo ela, a peregrinação foi uma
demonstração de que o povo Tupinambá está vivo, tem força e união. Valdelice, cujo nome
indígena é Jamopati (que significa florescer) afirmou ainda que os tupinambás querem mostrar
à sociedade que eles estão vivos e vão reconquistar seus direitos usurpados, sem sangue nem
massacres.
Membro do conselho tupinambá, Núbia Batista da Silva afirmou que seu povo é guerreiro, mas
precisa de apoio para reaver seu território, ter educação diferenciada e assistência de saúde.
Núbia destacou que a Funai já enviou para à área o técnico Jorge de Paula, que deve começar
o trabalho de levantamento territorial e de informações sobre a comunidade tupinambá, para
que o governo possa destinar aos índios a quantidade de terras de que precisam para viver.
Representantes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) reconheceram que sem suas terras
o índio não tem unidade e fica difícil realizar um trabalho de assistência integral.
Resistência
A modesta comunidade formada pelos tupinambás, em Olivença, tem cerca de mil pessoas, a
maioria lavradores. Elas já não aceitam ser chamados de caboclos ou pardos, como foram
obrigados a se assumir para escapar dos preconceitos e de violência, após os massacres que
dizimaram milhares de índios, desmantelaram a unidade do povo e dispersaram os que
resistiram.
"Nós somos tupinambás e como tal queremos ser reconhecidos", diz Cláudio Magalhães,
também membro do conselho. A discussão visando a demarcação das terras foi iniciada há 18
anos, sem estardalhaços. "Só agora resolvemos torná-la pública, porque precisamos de apoio
da sociedade para a nossa luta", ressalta ele.
Segundo Cláudio, a primeira grande baixa sofrida pelo povo Tupinambá aconteceu durante a
Batalha dos Nadadores, em 1557, no tempo do governador Men de Sá. "Além de dizimar
milhares de índios, eles eliminaram também nossa aldeia de origem, criando um novo
aldeamento, com a presença de várias etnias indígenas, para descaracterizar a cultura de cada
povo", revelou Cláudio.
A aldeia foi fundada pelos jesuítas, em 1680. Com a expulsão dos religiosos, em 1756,
tornou-se vila e passou a abrigar também moradores brancos. Já no século XX, entre 1928 e
1937, surgiu a liderança do caboclo Marcelino, que enfrentou o poder político dos coronéis.
Com sua liderança a comunidade se refez e tentou resistir, mas veio o massacre que o matou
e acabou com a unidade dos tupinambás.
A partir daí Olivença conhece a expansão turística, incentivada pelo coronelato, que jogou os
índios sobreviventes na zona rural, não raro com violência. Eles viraram caboclos, começaram
a ser perseguidos, se converteram ao catolicismo e passaram a trabalhar como escravos para
os fazendeiros. Reunidos em pequenos focos, distribuídos no centro de Olivença e em áreas
como Acuípe e Sapucaeira, eles continuaram resistindo, produzindo artesanato e hoje estão
renascendo em 18 comunidades, sob a liderança da cacique Valdelice de Jesus.

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