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Tucuruí gera 5 mil empregos e 4.125 MW

Estado de S.Paulo-São Paulo-SP
Autor: RENÉE PEREIRA
28 de Jun de 2002

Duplicação da grande usina no Pará a converterá na quarta maior do mundo e produzirá energia para mais 40 milhões de pessoas

Desde que foi escolhida para trabalhar nas obras de expansão da Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, Celia Regina Ribeiro, de 32 anos, viu sua rotina ser completamente alterada, com situações que jamais imaginou. Saiu de um emprego na prefeitura da cidade para se unir a outras 29 mulheres, que hoje trabalham rodeadas de mais de 5 mil homens. No ambiente marcado pelo trabalho braçal, elas dão o toque de delicadeza que faltava ao local e ainda desempenham papel fundamental na construção da segunda etapa da usina, cuja inauguração da 13.ª turbina está prevista para dezembro.

Atualmente, as 12 unidades de Tucuruí têm capacidade para gerar 4.275 megawatts (MW) de potência, o que lhe dá o título de maior usina genuinamente brasileira. Com a expansão, passará a acrescentar 4.125 MW ao sistema interligado nacional, permitindo atender cerca de 40 milhões de habitantes. Os números da usina são tão expressivos quanto a grandeza do conjunto de obras. Se antes o complexo hidrelétrico já causava espanto pelo tamanho, agora com a ampliação tudo se tornou gigantesco.

São cerca de 108 metros de altura e 8 milhões de metros cúbicos de concreto, que transformarão a hidrelétrica na quarta maior do mundo, atrás apenas de Três Gargantas (18,2 mil MW), na China, Itaipu (12,6 mil MW), Brasil/Paraguai, e Guri (10,2 mil MW), na Venezuela. Mas em um aspecto ela supera as demais: tem o maior vertedouro do mundo, diz o gerente de obras, Adailton Souza. São 580 metros de comprimento, 23 comportas e, quando acionado, retira do lago 110 mil metros cúbicos de água por segundo.

Para quem vê a obra gigantesca, em que apenas a represa tem 2.830 quilômetros quadrados, fica difícil imaginar que algumas partes da construção precisam ser manuais. E é nesse ponto que as mulheres levam vantagem. Com as mãos menores e um toque menos pesado que o dos homens, elas conseguem fazer um acabamento mais delicado, afirma o engenheiro da área de engenharia e planejamento do consórcio CNO/Inepar/FEM, Luís Fernando Fernandes. E completa: "Muitas estão sendo premiadas mensalmente pela qualidade do serviço."

O número de mulheres na usina ainda é pequeno diante da quantidade de homens. Mas Fernandes garante que as contratações vão aumentar por causa da inauguração das novas turbinas. O salário é baixo, mas muito benvindo pela população, que tem poucas opções na região. Além da importância nacional, a hidrelétrica não é simplesmente uma fonte de energia, mas sim de sobrevivência. Para muita gente, é da construção da segunda etapa da usina que sai o dinheiro para manter a família. Segundo a funcionária Celia, a empresa paga R$ 1,08 por hora, o que equivale a pouco mais de R$ 200 por mês.

Com esse dinheiro ela sustenta quatro filhos e o marido, que está desempregado. "É pouco, mas não temos opções." Além disso, Celia gosta do trabalho. A funcionária Luiza Souza da Silva, de 29 anos, endossa as palavras da colega. Na sua opinião, dificilmente se consegue um salário melhor em outro lugar com a segurança que a empresa oferece. Quanto a trabalhar rodeada de homens, ela diz não se incomodar e garante que todos têm muito respeito.

Tanto Luiza como Celia são naturais do Maranhão e foram tentar a vida no Pará. Situação bastante comum na cidade ou nas redondezas de Tucuruí. Boa parte das pessoas que saem do Estado vizinho acaba morando num vilarejo chamado Breu Branco, emancipada de Tucuruí em dezembro de 1992. Lá constroem casas em terrenos invadidos e vivem, muitas vezes, em situação irregular. Da cidade até a usina, são cerca de 30 minutos. O município nasceu do advento da hidrelétrica. Com a inundação de vários povoados pelo lago de Tucuruí, a estatal foi obrigada a construir outros povoados para abrigar os moradores.

No pico das atividades da segunda etapa, a usina chegou a criar 7.020 postos de trabalhos diretos e 30 mil indiretos. Segundo o gerente das obras de expansão da hidrelétrica, Adailton de Souza Pinto, cerca de 70% dos funcionários são naturais da Região Norte e 30% das demais localidades do País. Além disso, por causa dos royalties da produção de energia e da área inundada pela barragem, a cidade de Tucuruí se transformou na segunda maior arrecadadora do Estado, perdendo apenas para a capital, Belém.

Conjunto de obras - As obras da segunda etapa de Tucuruí começaram em 1998. Desde então, os funcionários vêm trabalhando incessantemente, dia e noite, para cumprir o cronograma previsto no projeto.

Na reta final para a inauguração da 13.ª turbina - primeira da segunda fase - de 375 MW, prevista para dezembro, os esforços se multiplicam para que tudo saia conforme o projetado pelos técnicos. A ampliação da usina é considerado um marco na história da região.

A construção da hidrelétrica envolve empresas como Camargo Corrêa, responsável pela montagem, e Norberto Odebrecht e Inepar, pela área de eletromecânica. O fornecimento dos equipamentos é feito pela Alston, GE e Inepar.

De acordo com o cronograma da Eletronorte, empresa estatal que opera Tucuruí, o término da montagem da primeira unidade da expansão, a 13.ª turbina, está previsto para 30 de novembro, mas a entrada em operação comercial somente vai ocorrer em 31 de dezembro. Já a 14.ª turbina será acionada em 31 de março de 2003 e a 15.ª em 31 de agosto do mesmo ano. A partir daí, cada unidade, de 375 MW cada, será inaugurada a cada quatro meses. A previsão é de que a última turbina, a 23.ª, entre em operação comercial em 30 de abril de 2006.

Transmissão - Associado à hidrelétrica, um importante sistema de transmissão vem sendo construído, com potência de 500 kV. Com as linhas, a energia elétrica produzida em Tucuruí poderá abastecer os Estados do Pará, Maranhão e Tocantins. Além disso, contribuirá para o suprimento do Sistema Sul/Sudeste/Centro-Oeste, mas desde que a interligação Norte/Sul esteja concluída.

Hoje, por exemplo, o sistema de transmissão não conseguiria levar mais energia de Tucuruí por falta de capacidade. Mas Souza garante que a interligação está caminhando conforme o cronograma e estará pronta assim que as turbinas forem sendo acionadas.

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