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Trinta corpos já foram resgatados da reserva

Estadão do Norte-Porto Velho-RO
06 de Nov de 2003

Pelo menos 30 corpos de garimpeiros já foram resgatados da área da reserva Roosevelt, ocupada pelos índios Cinta-Larga, no período de 99 a 2003, segundo dados levantados pelo delegado de Polícia Civil Raimundo Mendes, de Espigão do Oeste.
Os dados da Polícia Civil conferem com informações prestadas por funcionários da Funai. A área da reserva Roosevelt, de 2 milhões e 700 mil hectares de terra, começou a ser invadida por garimpeiros oriundos de diversos estados, em 1999. Até 2001, a Funai já realizou pelo menos quatro grandes ações de extrusão. A maior, em janeiro deste ano, quando foram retirados cerca de 5 mil garimpeiros.

GRUPO TAREFA
Através da portaria 1166, de novembro do ano passado, a Funai instituiu o Grupo Tarefa, formado por servidores dos estados do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia, para guarnecer as entradas da reserva que abriga hoje cerca de 1.300 índios, distribuídos entre as 32 aldeias catalogadas pela Funai. A operação conta com o apoio da Secretaria da Segurança, Defesa e Cidadania, através da COE e do Batalhão Ambiental, que mantém policiais nas barreiras de acesso à reserva. O destacamento é comandado pelo sargento PM Martins.
- Nossas ações são realizadas em apoio à Funai. Fazemos a fiscalização nas barreiras fixas e nas ações móveis - explicou o militar, acrescentando que na parte interna da reserva, todo o trabalho cabe à Funai. Martins está no local há 20 dias, com seu destacamento.
Já o coordenador-adjunto do Grupo Tarefa, Orlando Castro Silveira, explicou que as ações da Funai visam impedir o retorno de garimpeiros à reserva, ampliando a proteção dos índios. Ele é auxiliado pelos técnicos indigenistas Valdir de Jesus e Nazareno Tomaz.
Paralelo a essa operação, a Funai desenvolve projetos de manejo de pecuária e de piscicultura, na área de segurança alimentar, coordenados pelo biólogo José Francisco Rodrigues Furtado. Nos próximos 20 dias, o biólogo pretende iniciar a criação de peixes com 6 mil alevinos de tambaqui, beneficiando a nação Cinta-Larga.

ASSOCIAÇÕES
O trabalho de projetos da Funai é desenvolvido diretamente com três associações. Pae Renã, Pamaré e Norte-matogrossense, para evitar o esfacelamento sócio-econômico cultural dos Cinta-Larga. "Nosso povo estava entregue à ganância de brancos. Agora estamos unidos", disse Joaquim Cinta-Larga, cacique da tribo que habita na área que está localizada no território de Juína (MT). Ele comanda cerca de 300 indios.
Localizado pela reportagem de O ESTADÃO DO NORTE, na terça-feira pela manhã, em Cacoal, Joaquim Cinta-Larga explicou, com seu sotaque característico, que sua comunidade estava sendo dizimada pela invasão de garimpeiros brancos. "Muitos indios Cinta-Largas começaram a ficar viciados em droga, bebida alcoólica e nossas mulheres passaram a se prostituir com garimpeiros". O envolvimento, segundo o cacique, gerou o aparecimento de doenças venéreas, além do desagregamento que a nação indígena passou a sofrer.
Carlos Cinta-Larga, outro cacique contatado pela reportagem, garantiu que hoje, com a retirada dos garimpeiros que incomodavam a nação indigena, o clima entre os indios é de paz. Mas ele ainda se preocupa com os boatos de vingança da parte de garimpeiros, por causa da chacina do dia 20 de outubro. Do lado dos índios Cinta- Larga, há o temor de represálias, e dos garimpeiros, ameaças de vingança.
Joaquim e Carlos Cinta-Larga só aceitaram falar com a reportagem com a garantia de que não seriam fotografados ou filmados. A entrevista foi testemunhada por funcionários da Funai. Os dois líderes não autorizaram a entrada dos jornalistas de O ESTADÃO na reserva. Eles prometeram interceder junto às lideranças de 36 aldeias para, nos próximos dias, liberar o acesso ao centro da comunidade.

BARREIRA
A reportagem de O ESTADÃO conseguiu chegar, na tarde da terça-feira, até a barreira denominada Jaguatirica, que fica a 90 quilômetros do município de Espigão do Oeste, onde constatou o rigor no controle de acesso à reserva. Um homem que dirigia um veículo Tempra, com placa de São Paulo, tentou adentrar a reserva, com um casal de indios de carona. Foi barrado, mesmo alegando que prestava assessoria para uma associação indigena. Funcionários da Funai impediram seu acesso.
Dentro da reserva, os índios disseram que a comunidade Cinta-Larga está trabalhando normalmente, inclusive explorando diamantes. Os únicos brancos autorizados a entrar nas terras são prestadores de serviços que consertam máquinas, por exemplo. Eles estão sempre acompanhados de funcionários da Funai para que não se desviem das atividades para as quais foram contratados

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