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Tribos levam até 12 dias para receber índios mortos

OESP, Nacional, p. A11
06 de Dez de 2006

Tribos levam até 12 dias para receber índios mortos

Liège Albuquerque

A Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foirn) denunciou ontem que a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) está transferindo caixões com índios mortos em Manaus para São Gabriel da Cachoeira, a 858 quilômetros, por barco. O transporte até as aldeias leva até 12 dias.

Os índios vão a Manaus para tratamento médico sob a responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). 'Se morrem, a família tem duas opções: ou são enterrados em Manaus ou voltam para São Gabriel de barco', contou Janilson Padilha, da Foirn. Hoje há 26 pacientes indígenas de São Gabriel hospedados na capital.

Em outubro, segundo Padilha, Antonio Mendes, de 29 anos, da etnia tucano, foi a Manaus para tratamento médico. No dia 12 de novembro, morreu de ataque cardíaco no Hospital Adriano Jorge em Manaus. Só chegou a São Gabriel 12 dias depois.

Já Ricardo Peixoto, de 48 anos, do povo baníua, chegou a Manaus em junho para tratamento médico. Morreu de pneumonia em 17 de novembro. Após permanecer por cinco dias em Manaus, o corpo foi enviado pela Funasa para São Gabriel de barco, numa viagem de três dias. Até o enterro, em sua comunidade da região de Pari-Cachoeira, foram mais cinco dias de barco.

De acordo com Padilha, o desespero dos familiares tem sido grande. 'Além de não receberem informações sobre o tratamento, eles têm de passar por esse calvário para simplesmente ter o direito de enterrar seus parentes. Há indígenas que não entendem porque o caixão vem lacrado e querem abrir, ver se é mesmo o parente ali, é um sofrimento. A cultura indígena não vela os mortos mais que um dia.'

De acordo com o administrador da Funasa no Amazonas, Francisco Aires, alguns mortos são enviados de barco por contenção de despesas. 'Não temos o número de indígenas enviados dessa forma, mas o que não podemos é fretar um avião a R$ 10 mil até São Gabriel e R$ 4 mil até uma aldeia.'

Aires afirmou que dos dois aviões de carreira que fazem vôos semanais para São Gabriel apenas um tem espaço para caixões. 'E quase sempre estão com o compartimento de carga lotado. Daí a necessidade de ter de alugar um avião, o que é impossível', frisou.

O administrador informou ainda que ultimamente os corpos de indígenas mortos em Manaus estão sendo enviados em um navio chamado 'expresso', que faz em 16 horas a viagem para São Gabriel, algo que normalmente leva três dias.

'Embora não seja o ideal, que seria os corpos seguirem sempre de avião, é a alternativa', comentou.

OESP, 06/12/2006, Nacional, p. A11

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