O Povo
28 de Set de 2001
Os índios tremembés do Ceará, da aldeia Córrego João Pereira, com sede no município de
Itarema, estão sofrendo mais uma vez ameaças e perseguições nas localidades próximas às
suas terras. Após a publicação da portaria no 370, do ministro da Justiça, José Gregori, de 20
de abril de 2001, que declara que a terra indígena está pronta para ser demarcada fisicamente,
motoqueiros rondam regularmente as suas casas, que também são invadidas.
Na portaria consta que a terra indígena, dividida entre os municípios de Itarema e Acaraú, ficou
identificada como sendo tradicionalmente ocupada pelo grupo indígena Tremembé.
Recentemente, de acordo com Itamar Teixeira, representante dos tremembés, uma parte da
cerca de arame que delimitava provisoriamente o terreno foi roubada.
Para eles, esses acontecimentos são conseqüências da posse de terra concedida pelo
Governo federal. ''Antes, a gente só tinha a demarcação jurídica, agora temos a física'',
explicou Teixeira. A demarcação ainda não foi implementada oficialmente porque, segundo
Teixeira, a posse também foi concedida para outras 13 terras, em todo o País, e a Fundação
Nacional do Índio (Funai) ainda está fazendo as demarcações em outros estados.
''Vivemos preocupados com a demora da Funai. Sabemos que o resultado dessa lerdeza para
nós é mais sofrimento, porque estamos no período mais difícil de nossas vidas'', relata a carta
assinada pelos índios, destinada ao presidente da Funai, Glênio da Costa Alvarez.
Representantes da tribo devem ir à delegacia de Itarema hoje. Eles foram intimados a
comparecer ao local, mas não sabem por que. ''Amanhã (hoje), nós estaremos lá para saber o
que é'', afirma Teixeira. De acordo com o delegado regional de Acaraú, Aurélio de Araújo
Pereira, a intimação foi por questões relativas à terra, ''por brigas de terra. Não é nada muito
sério. Amanhã (hoje), eu farei um levantamento da real situação e depois iremos instaurar um
inquérito policial'', explicou Pereira.
Os tremembés do Ceará foram identificados oficialmente em 1999 e em 2000, receberam o
parecer de reconhecimento pela Funai. Agora, estão esperando pela agilização do processo de
demarcação física pela entidade. ''Nós até conversamos com o bispo de São Benedito ontem
(quarta-feira), para ver se o governador se sensibiliza com a nossa luta, com a nossa
resistência'', comentou Teixeira.
O POVO tentou contato, por telefone, com o chefe do Departamento de Identificação e
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