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Transposição : Índios impedem medições

A Tarde Salvador-BA
26 de Out de 2004

Índios trukas vão barrar medições da transposição do São Francisco na
Ilha de Assunção

No chamado Pontal, em Pernambuco, de onde se avista a localidade de
Pedra Branca, no município de Curaçá, na Bahia, os piquetes com a
marca (PTSF - Projeto de Transposição do São Francisco) sinalizam que
ali será um dos futuros canais de transposição do rio. Os marcos,
colocados desde o final de 2002, despertam a curiosidade da população
ribeirinha e revoltam os índios da Tribo Truka, que habitam, do lado
pernambucano, a Ilha de Assunção.

"Aqui não passam e se vierem, vamos fazer como da outra vez. Jogar
tudo no rio", desafia o cacique Aurisvan dos Santos Barros, o
Neguinho, que comanda 4.100 índios numa área de 6.200 hectares. Em
2002, quando técnicos da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do
Vale do São Francisco) demarcaram uma área próxima à ilha com os
piquetes da transposição, foram colocados para correr e tiveram o
trabalho destruído. Restaram apenas as marcações próximas a Curaçá.

Dispostos a assegurar a posse da área de maior produção de arroz em
Pernambuco, os trukas habitam, também, a maior ilha do São Francisco,
e lá não querem permitir qualquer trabalho que implique em prejuízos
para a fauna e flora do rio. "Aqui nós tínhamos o jacaré-açu, a
lontra e a capivara. O dourado, conhecido como o `rei do rio', já não
existe mais", diz Neguinho, para quem a transposição só vai agravar
os danos ambientais.

Escolas

"O nosso medo é o medo de todos os que vivem na margem do rio de um
dia não termos água para viver". O desabafo é da professora Neyde
Possidônio, que coordenou um trabalho com 500 alunos das escolas
públicas dos distritos de Pedra Branca, Oiteiro, Aracapáe Icozeira,
entre os municípios de Abaré e Curaçá, na Bahia, para mostrar os
danos ambientais causados pela transposição.

O trabalho foi mostrado numa faculdade em Paulo Afonso e de Recife e
serviu para mobilizar várias comunidades ribeirinhas contra o projeto
do governo federal. "Não é que sejamos contra a assistência a quem
tem sede. Mas é preciso atender a quem está próximo ao rio", diz. Na
sua redação, a estudante Elânia Cristina da Silva, 28 anos, aluna do
1o- ano do ensino médio, diz: "Quem mora na beira do rio é contra,
mas não pode fazer nada contra o governo, a não ser protestar".

O município de Abaré tem pouco mais de 16 mil habitantes, dos quais
cinco mil vivem nas ilhas. É nessas ilhas que é cultivada a maior
parte da produção de cebola, manga, banana e goiaba, que são vendidas
para outros municípios e Estados do País. "Daqui retiro o meu
sustento, que agora o governo quer acabar", diz o agricultor Ademar
Simões de Araújo, que cultiva manga, cebola, melancia e feijão, na
Ilha dos Brandões, próximo à localidade de Barra do Tarrachil, entre
a Bahia e Pernambuco.

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