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Tragédia ecológica

CB
Autor: Cristina Ávila
25 de Ago de 2002

Clima seco, estiagem prolongada e descaso de fazendeiros provocam aumento exagerado no número de queimadas na Amazônia nos últimos três anos. Unidades de conservação e parques florestais estão entre as áreas atingidas pelo fogo

Queimada em São Félix do Xingu, no Pará. o crescimento de focos de incêndio na região Amazônica nos últimos três anos foi de 143%

As queimadas na Amazônia Legal estão deixando a região em estado de alerta. De julho de 1999 a julho deste ano, o número de focos de incêndio aumentou 143%. Só nos primeiros 20 dias de agosto, foram registrados 21.716 focos de calor nos nove estados amazônicos. Pior: muitos deles em unidades de conservação ecológica e terras indígenas. O maior estrago é em Mato Grosso. Somente em Guarantã do Norte, próximo à divisa com o Pará, foram destruídos mais de 400 hectares de matas virgens, o equivalente a mais de 500 campos de futebol. Até o ano passado, o município era exemplo nacional de prevenção a incêndios.

Oitenta por cento dos 126 municípios mato-grossenses estão sofrendo com queimadas, segundo levantamento da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema). São provocadas para limpeza de pastos e ampliação de lavouras, desobedecendo a proibição de queimada pelo governo federal, que vai do dia 15 de julho a 15 de setembro.

Vizinhos à região de Guarantã do Norte, outros seis municípios registraram quase 2.200 focos de fogo no primeiros 20 dias de agosto. Esses focos são identificados por satélites monitorados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O norte do Mato Grosso, por exemplo, está sem chuva desde maio. Temperatura geralmente acima de 38 graus centígrados, umidade baixíssima (20% nos últimos dias), e ventos fortes aumentam as chances de uma catástrofe ecológica. Soma-se a isso a exploração ilegal de madeiras nobres em torno das fazendas. Com a abertura de clareiras, a matas perdem a umidade e se tornam mais inflamáveis.

Com as queimadas, a fumaça e fuligem tomam conta do ar. ''Crianças e idosos sofrem problemas respiratórios graves'', afirma o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Guarantã, Norival Batista dos Santos. O município tem 28 mil habitantes.

Parques ameaçados
No Mato Grosso, o fogo também destruiu 100 hectares de matas do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, que guarda parte importante da fauna e flora do cerrado e é ponto turístico principalmente para os moradores de Cuiabá, que estão distantes apenas 67 quilômetros de cavernas, cachoeiras e 46 sítios arqueológicos.

Em Tocantins, o fogo se espalhou em florestas do Parque Nacional do Araguaia, que ocupa um terço da Ilha do Bananal. A ilha tem 350 quilômetros de comprimento por 80 de largura. Durante três dias, um incêndio devorou 50 hectares do parque. Segundo o coordenador estadual do Centro Nacional de Prevenção aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama, Raimundo Noleto, o fogo começou nas roças de índios que moram no vizinho Parque Indígena do Araguaia.

As queimadas estão concentradas no norte do Mato Grosso e sul do Pará, onde ocorrem as maiores derrubadas de florestas para formação de áreas para agropecuária. Mas o fogo está espalhado em todo o Brasil Central e no chamado Arco do Desflorestamento, que abrange norte do Mato Grosso, sul/sudeste do Pará, norte do Tocantins, oeste do Maranhão e terras às margens da rodovia BR-364 (Cuiabá-Porto Velho).

Os incêndios estão sendo combatidos nos estados pelos órgãos locais e regionais do Ibama. No último dia 21, o ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, esteve em Guarantã do Norte. Ele deslocou ao Mato Grosso 60 bombeiros que atuavam no Pará, reforçando uma equipe de 100 homens que já estavam trabalhando no combate ao fogo. Só em Guarantã foram aplicadas cerca de R$ 300 mil em multas contra fazendeiros.

A estrutura do país para combate a incêndios florestais na Amazônia começou a ser montada por causa da tragédia ecológica que queimou 14 mil quilômetros de florestas amazônicas e mais 17 mil de cerrado, em 1998, em Roraima. O governo federal criou a chamada força tarefa com 500 bombeiros de Brasília e com agentes do Ibama para casos de emergência

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