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Tradicionalismo é citado em carta oficial indígena

Jornal do Commercio-Mamanus-AM
Autor: Marcos Coelho (
07 de Dez de 2004

O direito da comunidade indígena do Amazonas de ter controle e retorno financeiro dos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade local foi reportado em carta enviada a diversas autoridades locais e nacionais, após a conclusão da '2a Conferência de Pajés', realizada no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), na semana passada. Durante o encontro, a cultura indígena foi evidenciada, levando em consideração os saberes acumulados por esses povos ao longo de milênios.

Semana de debates

O evento teve início no domingo, 28 de novembro, e contou com um público de 15 etnias amazônicas e quatro pajés.

Representantes da Fepi (Fundação Estadual de Política Indigenista), governo do Estado, Inpa, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Funai (Fundação Nacional do Índio) e Sect (Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia) aprovaram a versão final da carta após as discussões e a levaram para apreciação em suas respectivas instituições.

Saber associado

O pajé Gabriel Gentil, da tribo Tukano, no Alto Rio Negro, se disse satisfeito com o conteúdo do material, que além de novas reivindicações, traz outras não atendidas na '1ª Conferência de Pajés', realizada em 2002. "Naquela época tivemos algumas vitórias. Dessa vez, me preocupa se essa carta vai ser atendida pelas autoridades", afirmou o pajé, se referindo à cultura tradicional.

Povos não perdem oportunidade de falar o que pensam e sentem

Gabriel Gentil insiste que tudo que os índios querem é reconhecimento, respeito, direito de comercializar os produtos regionais e de manter o controle tanto sobre o CTs (conhecimentos tradicionais) quanto sobre os CTAs (conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético), por meio do repasse dos mesmos às novas gerações indígenas, evitando a patente internacional e, portanto, a institucionalização cultural.

O coordenador de extensão do Inpa, Jackson Fernando Rego, que teve participação direta na organização do evento, explicou que o objetivo principal da carta é de deixar bem clara a posição da população indígena do Estado quanto "às crenças, lendas, mitos e memória ancestral dos povos que detêm o conhecimento sobre formas tradicionais de utilização do nosso patrimônio de biodiversidade".

Rego disse que a carta pretende chamar a atenção das autoridades para que sejam formuladas políticas públicas que valorizem os conhecimentos tradicionais e reconheçam o direito dos índios de se beneficiar desses conhecimentos.

"O retorno financeiro que pode ser adquirido vem mostrar o real valor da nossa natureza e a possibilidade de ganhos com nossas espécies, como o cupuaçu, que tem grande potencial no mercado internacional", apontou Rego.

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