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Trabalho forçado soma 12,3 mi de vítimas, diz OIT

FSP, Brasil, p. A10
12 de Mai de 2005

Trabalho forçado soma 12,3 mi de vítimas, diz OIT
Estudo calcula 25 mil escravos no Brasil; Ásia e Pacífico reúnem maioria

Julianna Sofia
Da sucursal de Brasília

O trabalho forçado está presente -sob diversas formas- em todos os continentes, em quase todos os países, em todos os tipos de economia e contabiliza, pelo menos, 12,3 milhões de vítimas. O quadro foi revelado ontem em relatório divulgado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho). No Brasil, há 25 mil pessoas nessa condição, segundo o órgão.
O maior contingente de trabalhadores forçados, segundo o relatório, está na Ásia e no Pacífico. São 9,49 milhões de vítimas. Em segundo lugar vêm América Latina e Caribe, com 1,32 milhão.
É a primeira vez que um levantamento aponta os números globais do trabalho forçado. No estudo, a OIT destaca a relação entre esse tipo de exploração e o tráfico de pessoas -combinação cujos lucros anuais são estimados em US$ 31,6 bilhões. "Trata-se de um dos problemas mais ocultos do nosso tempo", diz o documento.
O documento cita os países industrializados -da Europa e os EUA- como os maiores beneficiados pelo lucro do tráfico de trabalhadores forçados. Ficam com metade (US$ 15,5 bilhões) do rendimento obtido pelos exploradores desse tipo de mão-de-obra.
A OIT tipifica o trabalho forçado como toda atividade em que há coação e falta de liberdade por parte do trabalhador.
Segundo a coordenadora de assuntos relacionados ao trabalho escravo do escritório da OIT no Brasil, Patrícia Audi, a organização reconhece que a estimativa de 12,3 milhões é modesta. "A OIT fez um levantamento consciencioso e criterioso que revela um número modesto de trabalhadores forçados no mundo."
Pelos cálculos da organização, se for relacionado o total de vítimas do trabalho forçado com a população mundial, chega-se à conclusão que existe ao menos um pessoa nessa situação para cada mil habitantes. Levando-se em conta a força de trabalho mundial, o número sobe para quatro pessoas a cada mil trabalhadores.
Uma programa de ação propõe que os países adotem uma legislação clara para definir trabalho forçado; estabeleçam programas de ação de duração determinada; assegurem recursos para o cumprimento da lei; criem programas de reabilitação dos trabalhadores forçados. No documento, a OIT estabelece a meta de erradicar o trabalho forçado até 2015.
Brasil
Apesar de registrar oficialmente 25 mil trabalhadores escravos, o Brasil recebe oito menções elogiosas no relatório. Pelo documento, desde 2003, o governo Lula tem adotado medidas mais enérgicas para combater a prática no país.
Em 2004, o governo brasileiro declarou na ONU que existem no país 25 mil trabalhadores escravos. A CPT (Comissão Pastoral da Terra), no entanto, afirma que o número de vítimas pode chegar a 40 mil. Segundo a OIT, Mato Grosso e Pará reúnem a maior parte dos trabalhadores escravos.
Desde 1995, o Brasil reconhece a existência do uso de mão-de-obra escrava. O relatório da OIT afirma que somente a partir de 2003 o país consolidou uma posição de destaque na luta contra o trabalho escravo. "O Brasil se adiantou aos demais países", declara o relatório ao comentar a adoção, em março de 2003, de um Plano Nacional de Ação contra o Trabalho Escravo.

FSP, 12/05/2005, Brasil, p. A10

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