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Torneiras continuam secas na Bororó

Douradosagora
Autor: Maria Lucia Tolouei
27 de Fev de 2007

Indígenas residentes na Aldeia Bororó aguardam a conclusão das obras de implantação do sistema de distribuição de água encanada. Na Jaguapiru, o benefício já contemplou a maioria das famílias, confirmou ontem o cacique guarani Renato de Souza. Já na outra aldeia, onde domingo morreu um menino de dez meses, vítima de desnutrição grave, o problema da falta de água nas torneiras aflige aquela população.

Ontem, durante o velório do menino Cleison, o fotógrafo Hedio Fazan flagrou uma criança de seis anos bebendo água num vasilhame de agrotóxico, prática comum nas aldeias, confirmam as lideranças.

O problema, segundo eles, é que grande parte dos indígenas da Bororó continuam tendo que andar pelo menos um quilômetro até a Escola Araporã, para obter água potável. A roupa, as mulheres continuam lavando no riacho. Ontem, uma dona de casa, tia da criança que morreu, disse ao Douradosagora e ao O PROGRESSO que elas perdem muito tempo se deslocando. E as crianças ficam de um lado para outro, à espera do alimento. "A gente perde o peso das crianças enquanto lava roupa no riacho", desabafa Célia Maciel.

Em nota oficial ontem ao O PROGRESSO e ao Douradosagora, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) informou que cinco poços estão sendo implementados nas Aldeias Bororó e Jaguapiru; dois em perfuração, num total de 120 mil metros de rede e mais de duas mil ligações domiciliares. Três estão na Bororó, onde a situação nutricional das crianças é mais crítica. Um destes, em fase final de projeto, deve iniciar o abastecimento em março.

A Funasa também está reavaliando o histórico médico do menino de dez meses que morreu domingo, em casa, na Aldeia Bororó, conforme noticiou O PROGRESSO na edição de ontem. No laudo assinado pelo médico Raul Grigoletti, consta que a causa da morte é a desnutrição grave e caquexia (debilidade geral).

A Funasa informou ontem que técnicos estão analisando "o motivo pelo qual os alimentos recebidos pela família não mantiveram dentro da normalidade a situação nutricional do indígena, uma vez que não havia falta de alimentos", diz a Fundação em nota oficial.

Em entrevista anteontem ao jornal, a mãe de Cleison, Salete Benites, de 20 anos, contou que o marido está desempregado há três meses e eles estão passando fome. Salete conta que vem alimentando a família com caldo grosso de mandioca e agora teme que o outro filho, de quatro anos, morra também.

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