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Rio Branco-Rio Branco-AC
07 de Out de 2005

Ao propor ao governador Jorge Viana que exonere o Secretário Extraordinário dos Povos Indígenas, Francisco Pinhanta, e indique Sebastião (Sabá) Alves Rodrigues Manchineri para substituí-lo, a Organização dos Povos Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia (OPIN) omitiu fatos amplamente divulgados, em diferentes redes latino-americanas, e no site oficial (?) Da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), durante a verdadeira guerra que foi a preparação e a realização de dois congressos gerais da organização, um na Guiana Francesa e outro na Bolívia, em meados deste ano.

Sebastião Manchineri (primeiro na foto, da esquerda pra direita) é o ex-coordenador da COICA, acusado pelos atuais membros do conselho diretivo da entidade de nepotismo, corrupção e de fomentar a divisão do movimento indígena latino-americano. Ele é apresentado como um interessante caso de construção planejada de um "líder". Chega a ser acusado de se apresentar como um indígena, quando na realidade seria um mestiço. Manchineri é acusado, ainda, de usar uma vestimenta tradicional em suas aparições públicas e de difundir a imagem de xamã.

- Seus discursos são como clichês aprendidos, que vão sendo aperfeiçoados com o tempo. Às vezes,começa pedindo "permiso a los espíritus y los ancestros", e outras vezes, suas frases têm pouco a ver com a sua pratica gerencial e política. Alguns oficiais da Cooperação Européia ficam impressionados com um discurso de um personagem que parece da novela o "ultimo de los Mohicanos" e crêem haver conhecido a alguém que encarna suas leituras sobre antropologia indígena. Tem falado muito contra os mestiços, o que resulta atentatório contra a identidade de seus próprios filhos, que são mestiços - observam seus adversários.

O correio eletrônico das organizações e das pessoas ligadas ao mundo indígena foram, desde maio de 2005, inundados de mensagens contraditórias, de ameaças, acusações, desmentidos etc. O tema central era o VII Congresso Geral da COICA. A única coisa que parece clara é que a COICA esteve a ponto de romper, e hoje luta para resgatar sua unidade. As perguntas são porque, quem foi responsável por essa ameaça de divisão e que interesse houve por trás disso.

- Estou tranqüilo. O site da COICA foi roubado e é de lá que tem partido todas as denúncias infundadas contra mim. Mas a organização segue sendo dirigida por Egberto Tabo Chipunavi. Meu pai é manchineri e minha mãe é não índia. Tenho orgulho disso, pois no meu povo a hereditariedade se dá pelo lado paterno - afirma Sebastião Manchineri.

É importante atentar que, formalmente, o atual presidente da COICA é Tony James, líder da Guiana, eleito no congresso oficial, realizado naquele país.

Perigo
Antes de sair para governar a COICA, Sabá ocupou cargos na União das Nações Indígenas do Acre e sul do Amazonas (UNI) e na Administração da Funai em Rio Branco. Nesses dois espaços, é acusado de ter promovido sistemáticas campanhas de divisão do movimento indígena. Junto com pessoas como Francisco Avelino Apurinã (Chico Preto) e Manoel Gomes Kaxinawá, encabeçou campanhas difamatórias contra o antropólogo Terri Aquino e o sertanista Antônio Macedo, a quem acusou de serem estupradores de índias, denegriu os trabalhos de outras organizações indígenas e indigenistas, loteou os Postos Indígenas da Funai no Acre com lideranças indígenas que acabavam de ser expulsas da UNI por canibalismos internos.

Há um ano, e ainda hoje, a UNI é um cadáver insepulto, à caça de quem vai bancar o prejuízo de mais de R$ 30 milhões, promover um enterro digno e silencioso e financiar a existência da OPIN, que na verdade é a UNI transgênica, pois as pessoas à frente dessa "nova" organização são na realidade as mesmas que tentam hoje dar as cartas na "renovação" do movimento indígena no Acre.

É nesse contexto que agora chegam as ameaças contidas em dois documentos tornados públicos pela OPIN em setembro, com a intenção de, primeiro, botar curto, difamar e encurralar o Governo do Estado, a nível local e nacional, e, depois, chamá-lo para o diálogo, fazendo exigências. A OPIN, contudo, é sucessora da UNI, hoje desacreditada no plano nacional e internacional, o que pode ser confirmado pelo cancelamento dos projetos e convênios que tinha junto ao PDPI, o PPTAL e a Funasa.

Acusado de ladrão no exterior, sem salário, Sebastião Manchineri veio ao Acre cheio de marra, confiando no desconhecimento alheio quanto à sua trajetória recente. Tentou conversar com políticos do PT, se colocando à disposição e falando na pretensão de ser candidato a deputado. Foi aconselhado a conversar com Francisco Pinhanta, que não lhe deu trela, cismado que pudesse querer sua cabeça e a SEPI, como está pleiteando agora.

Sabá e a OPIN, sem espaço e dinheiro, se tornaram um perigo. Vêm, então, os dois primeiros documentos públicos, contendo "umas em cheio e outras em vão", como costuma se dizer. São novamente apoiados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o PC do B, aliás, o partido que, após tanto lutar e se dizer dono dos índios acreanos, conseguiu ocupar e matar, no Acre, três organizações ao mesmo tempo: UNI, Funasa e Funai.

Os documentos são assinado por organizações satélites da própria OPIN. Usam, ainda, indevidamente e sem permissão, o nome de outras organizações. Misturam coisas que causaram a derrocada do movimento indígena, centralizado, no Acre, nos últimos anos: a política partidária, convênios com a Funasa, pautas nacionais trazidas pelo CIMI, dependência dos recursos e da legitimidade do governo estadual.

As pretensões de mudar a cabeça da SEPI são legítimas, sempre. Fazem parte do jogo democrático. Mas devem ser justificadas com argumentos decentes e densos. É o secretário que está promovendo a desarticulação do movimento indígena ou este caiu de podre, e hoje jaz, tal qual cadáver insepulto, à caça de quem o enterre dignamente e, com varinha de condão, dê mais algumas vidas a esse gato preto, hoje chamado OPIN?

Se a intenção é mudar o secretário, chame-se uma grande assembléia, ou várias discussões, envolvendo todas as organizações indígenas do Estado para se discutir o tema e se chegar a um nome de consenso. Por que, de forma centralizada e autoritária, nomear o desempregado Sabá?

Depois que voltou ao Acre, qual foi a prestação de contas que, como toda liderança deve fazer, Sabá realizou a respeito do seu trabalho na COICA? Quais foram as explicações que deu a respeito do fato de ter saído como ladrão e persona non grata? Que justificativas convincentes dá para a necessidade de mudança na SEPI, analisando os dois anos de existência desse órgão e de sua relação com o movimento indígena?

Que propostas inovadoras apresenta para sua candidatura e a renovação da SEPI? Querer ser secretário, pode, sem dúvida. Não pode é querer tomar de assalto, junto com um exército brancaleone de lideranças, que tudo têm a explicar a respeito do seu passado recente, tanto do ponto de vista individual quanto de quadrilha, na forma de UNI, hoje OPIN.

Político
O Francisco Pinhanta, secretário, pode ter suas falhas, claro, mas tem agido de forma transparente, na qualidade de "funcionário de estado", vestindo a camisa de um projeto de governo arquitetado por Jorge Viana e o Governo da Floresta.

É fundamental discordar de várias coisas sobre o atual governo. Mas é preciso jogar limpo, criticar de maneira justificada e propor soluções criativas para a melhoria dos processos democráticos de governo.

Sabá Manchineri é o velho PMDB do movimento indígena acreano: cargos, dinheiro e espaço político em jogo, críticas muitas e nenhuma proposta concreta de renovação ou de governo, assim como faz a oposição ao governador Jorge Viana, de olho na próxima eleição.

Ele conseguiu dividir o movimento indígena sul-americano, está de volta ao Acre e, como é de seu costume, trabalha novamente para dividir o movimento indígena acreano - e, de quebra, o próprio Governo da Floresta. O negócio é discutir a SEPI? Vamos nessa, então.

Conversei com Sabastião Manchineri ontem durante quatro horas. Como sempre, esbanjou segurança em suas palavras e argumentos. Documentos para justificar suas posições tampouco lhe faltarão. Vários desses documentos fez questão de deixar cópias em meu poder. É um político profissional, pronto para qualquer embate. "Aliados", com interesses próprios, também sempre há de encontrar.

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