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Tijuca foi reflorestada há 150 anos

OESP, Vida, p. A23
17 de Jul de 2011

Tijuca foi reflorestada há 150 anos
Em mais de uma década, área recebeu 100 mil mudas da Mata Atlântica

Felipe Werneck

Pressionado por problemas de abastecimento de água provocados pela monocultura do café, d. Pedro II ordenou, no ano de 1861, a desapropriação de todas as fazendas do Maciço da Tijuca. A Portaria Imperial que transformou essas áreas em patrimônio protegido da União é considerada a origem do Parque Nacional da Tijuca.
Na época, o reflorestamento da região era visto como uma missão impossível. Nomeado administrador da mata degradada, o major Manuel Gomes Archer levou 13 anos para plantar 100 mil mudas de espécies nativas da Mata Atlântica. Graças a visionários como ele, a floresta renasceu.
Os 150 anos do início do reflorestamento e o cinquentenário da criação oficial do parque nacional são comemorados neste ano. Além de Archer, que contou com a ajuda de 6 escravos e 22 trabalhadores assalariados em sua jornada épica, destacam-se Tomás Nogueira da Gama, responsável pelo reflorestamento nas cabeceiras dos Rios Carioca e Paineiras, e o barão Gastão d"Escragnolle, sucessor do major, que criou várias áreas de lazer.
No livro Uma Floresta na Metrópole, da editora Andrea Jakobsson, a analista ambiental Ana Cristina Pereira Vieira, o geógrafo Bernardo Issa e o diplomata Pedro da Cunha e Menezes, os dois ex-chefes do parque, dão uma aula sobre a unidade de conservação. O parque divide a cidade em zona sul e zona norte. É o menor do País em território (3.953 hectares, 3,5% da área do município) e o mais visitado. Foram quase 2 milhões de pessoas em 2010.

Unidade pode ser ampliada

Felipe Werneck
Rio

A chefe do Parque Nacional da Tijuca, Maria de Lourdes Figueira, diz que está em estudo a ampliação da unidade de conservação. Ela promete sinalização em trilhas, como a que liga o Parque Lage ao Corcovado, e anuncia para o fim do mês uma nova rodada de licitação para escolha da empresa responsável pela recuperação do Hotel das Paineiras (1884), abandonado há mais de duas décadas.
Como não houve interessados na concorrência, feita no ano passado, o edital foi alterado. "Não vai ter mais hotel. Será um complexo de apoio à visitação ao Corcovado, com estacionamento, restaurantes, lojas e áreas para exposições e eventos."
O parque tem 20 funcionários próprios e cerca de 80 terceirizados. "É pouco", admite Maria de Lourdes. Depois da praia, é o principal ponto de lazer do Rio, com atrativos como a Vista Chinesa, a Capela Mayrink, a Mesa do Imperador, o Parque Lage, o Pico da Tijuca, a Pedra da Gávea, a Rampa de Voo Livre da Pedra Bonita, o Mirante Dona Marta, a Gruta dos Morcegos e o Cristo Redentor. Abriga 43 rios e riachos, que formam 34 cascatas. A maior é a Cascatinha Taunay, com queda de 35 metros.
Pedro da Cunha e Menezes lembra que o major Manuel Gomes Archer contrariou todos os conceitos de reflorestamento em voga há 150 anos, quando havia uma centena de propriedades cafeeiras na área do parque.
"Ele preferiu ir além da proteção dos mananciais de abastecimento de água. Foi ambicioso. Procurou reconstituir a Mata Atlântica. Semeou tantas espécies quanto pôde." Quando deixou a direção da floresta, registrou que o trabalho estava completo e que a natureza faria o resto. "Estava certo. Quem visita a Tijuca hoje tem dificuldades em ver ali uma floresta plantada."
O parque funciona como "amortecedor térmico", diz a analista ambiental Ana Cristina Pereira Vieira. Segundo ela, estudos indicam que, sem ele, o Rio poderia vir a ter um clima seco, com temperaturas de até 46oC. Para a analista, a floresta está "em pleno estágio de recuperação". Embora protegidas, ela alerta, as matas apresentam alto risco de retração, por causa da pressão urbana no seu entorno.
"Podemos afirmar que o parque é a experiência mais antiga de recuperação de área degradada e de conservação ambiental. E que é possível restabelecer os serviços ambientais prestados pela floresta. Em tempos de mudanças climáticas e ameaças ao Código Florestal, esse é o legado que o Brasil tem de difundir", diz Rogério Rocco, também analista do Instituto Chico Mendes.

OESP, 17/07/2011, Vida, p. A23

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110717/not_imp745948,0.php
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110717/not_imp745949,0.php

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