Terrorismo covarde na penumbra da noite (I)

Covardia, barbárie, terrorismo, são algumas das palavras que podemos associar ao ataque terrorista praticado contra o Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, antiga Missão Surumu, na madrugada de sábado por bandidos encapuzados e indígenas totalmente transtornados por bebida alcoólica. Segundo relato das vítimas, eram mais de cem pessoas, chegaram numa carreta e duas pick-up Toyota modelo novo.
Agrediram crianças, jovens e mulheres. Saquearam seus pertences, aterrorizaram, invadindo as dependências da antiga Missão, quebrando tudo. Munidos de muita gasolina, atearam fogo nos dormitórios, no hospital, na capela. Sabiam muito bem o que estavam fazendo e o fizeram com gosto.
Da bandidagem daquela madrugada sobrou cinzas, lágrimas, traumas e a certeza de que não será esse ato covarde que irá fazer com que os povos indígenas de Roraima e seus aliados abaixem a cabeça ao poder opressor ou se submetam aos ditames da elite roraimense.
Nada justifica aquela ação terrorista. Não é a primeira vez e não será a última que a elite local utiliza estes artifícios para intimidar índios e aqueles que defendem seus direitos. Basta fazer um breve resgate histórico e vamos nos deparar com vários tipos de absurdos de violência contra indígenas e missionários. Sobre isso voltarei a falar num próximo artigo.
Eu estive lá na Vila Surumu. Vi dor, tristeza e muita decepção. Mas em meio a tudo isso, eu vi também muita esperança, muita fé e certeza de que a vida continua, que das cinzas muita coisa boa pode brotar. E que aquela covardia vai unificar ainda mais o povo índio na defesa de seus direitos.
Mesmo em meio ao sofrimento, a festa pela Homologação da Raposa Serra do Sol em Área Contínua já está acontecendo. Afinal, foram vários anos de luta, muitas mortes, muito sofrimento, muita perseguição e algumas vitórias significativas. Independente da vontade da maioria dos políticos que não foram capazes de fazer qualquer tipo de pronunciamento contrário à violência praticada contra um dos principais patrimônios históricos de nossa sociedade, que é a estrutura física aonde funcionou a antiga Missão Surumu.
Ao invés de condenar o atentado terrorista, a maioria dos políticos optou por usar os holofotes da mídia para condenar a festa promovida pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), mostrando claramente do lado de quem estão. Deveriam era exigir das autoridades uma apuração rápida e rigorosa para identificação dos executores e mandantes, pois nenhum cidadão de bem pode concordar com aquela ação criminosa ocorrida no Surumu.
* Jornalista e militante do Partido dos Trabalhadores (PT). E-mail: pablo.sergio@bol.com.br.