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Terra Yanomami: números mostram maior devastação causada pelo garimpo em 30 anos

g1 - https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia
25 de Abr de 2022

Terra Yanomami: números mostram maior devastação causada pelo garimpo em 30 anos
Relatório divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) expõe violência contra os indígenas, desmatamento e doenças provocadas pela explosão do garimpo na terra indígena.

Por Yara Ramalho, g1 RR - Boa Vista
25/04/2022

Levando violência, destruição ambiental e doenças para a Terra Yanomami, maior reserva indígena do Brasil, o garimpo ilegal avançou 46% na região no ano passado, a maior devastação da história desde a demarcação e homologação do território há quase 30 anos.

Os números são do relatório "Yanomami sob ataque", divulgado no último dia 10 pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), a mais representativa organização deste povo.

Em 2021, a degradação chegou à marca de 3.272 hectares, frente aos 2.234 hectares de 2020 -- 1.038 hectares a mais em um ano.

A Terra Indígena Yanomami é a maior reserva do país, com mais 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e Roraima, onde fica a maior parte. São mais de 28,1 mil indígenas que vivem na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades. A HAY estima que há 20 mil garimpeiros explorando ilegalmente a região.

De outubro de 2018 até o fim de 2021, a área destruída pelo garimpo ilegal quase dobrou de tamanho, ultrapassando 3,2 mil hectares, afirma o relatório.

No ano passado, já havia sido registrado um salto de 30% em relação ao período anterior. De 2016 a 2020, o garimpo na Terra Yanomami cresceu 3.350%, conforme o estudo.

Em meio a estes números, o documento denuncia violações de direitos dos indígenas que vivem na Terra Yanomami.

"À medida que os núcleos garimpeiros ilegais se proliferam e crescem nas diferentes regiões da TIY, as comunidades vizinhas sentem a perda do "controle" sobre o seu espaço de vida. Isto porque a insegurança os dissuade de circular pela região, seja em razão de ameaças explícitas de garimpeiros contra suas vidas, seja em razão da simples presença hostil de não-indígenas."

"É recorrente a queixa de lideranças sobre a intensa circulação de garimpeiros fortemente armados e as consequentes intimidações para que os indígenas coadunem com as condições impostas pelos invasores. Em muitos relatos, os membros das comunidades disseram sofrer com a restrição a seu livre trânsito na Terra Indígena, deixando de usufruir de áreas utilizadas para a caça, pesca, roça, e da comunicação terrestre e aquática com as comunidades do mesmo conjunto multicomunitário", cita trecho do relatório.

Waikás, Homoxi e Kayanau: regiões mais degradas

As regiões que apresentaram maior crescimento anual são, respectivamente, Waikás (296.18), Homoxi (253.31), Kayanau (178.64) e Xitei (124.84). Com exceção das regiões Surucucus, Missão Catrimani e Uraricoera, todas as áreas tiveram um crescimento de 2020 até o fim de 2021. (Veja na tabela abaixo)

Área degradada pelo garimpo em 2021 na Terra Yanomami
Região Dez/2020 Dez/2021 Aumento anual Variação anual
Alto Catrimani 104.36 175.43 71.069 68%
Alto Mucajaí 15.75 17.11 1.36 9%
Apiaú 76.79 106.65 29.859 39%
Auaris 0 4.05 4.05 -
Demini 2.32 1.86 -0.46 -20%
Ericó 19.04 23.36 4.324 23%
Hakoma 24.98 42.21 17.23 69%
Homoxi 145.98 399.29 253.31 174%
Kayanau 510.17 688.81 178.64 35%
Médio Catrimani 12.8 4.36 - 8.44 - 66%
Palimiu 4.76 15.59 10.83 228%
Papiu 17.44 38.77 21.33 122%
Parafuri 0 5.51 5.51 -
Parima (Arathau) 77.76 112.32 34.56 44%
Surucucus 35.18 27.49 -7.69 -22%
Uraricoera 5.4 2.98 -2.42 -45%
Waputha 0 4.01 4.01 -
Waikás 1169.93 1466.11 296.18 25%
Xitei 11.34 136.18 124.84 1101%
Total 2234 3272.09 1038.092 46%

Quase metade das áreas afetadas por garimpos estão concentradas na região Waikás, no rio Uraricoera, seguidas de Kayanau, localizada na confluência dos rios Couto Magalhães e Mucajaí, com mais de 20% e Homoxi, na fronteira do Brasil com a Venezuela, com 12%.

Em março deste ano, o vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, divulgou a foto de uma cratera a céu aberto (veja abaixo) causada pelo avanço da atividade garimpeira, ameaçando a estrutura da Unidade Básica de Saúde Indígena de Homoxi.

O relatório da HAY também mostra que, o polo de Homoxi não é o único afetado. Dos 37 polos de saúde existentes na Terra Yanomami, 18 possuem registro de desmatamento relacionado ao garimpo.

Nas regiões que registraram uma redução, segundo o estudo, a "variação está associada ao refinamento do mapeamento, quando o sobrevoo e melhores imagens disponíveis corrigem erros de interpretação, do que a uma real recuperação da paisagem".

Nesse cenário, aproximadamente 110 comunidades da Terra Indígena Yanomami são diretamente afetadas pelo desmatamento, destruição e a contaminação das águas e dos solos causados pelo garimpo ilegal.

"Todavia, é preciso ressaltar que alguns dos impactos do garimpo possuem um alcance muito maior do que aqueles observados na floresta e nos rios. Dentre esses, a disseminação de doenças infectocontagiosas (em especial a malária), a contaminação pelo metilmercúrio, subproduto do garimpo, e a sobrecarga no sistema de saúde local", cita o relatório.

Degradação das águas
Em relação a degradação das águas, os principais rios e Igarapés afetados atualmente são: rio Uraricoera, rio Parima, Igarapé Inajá, Igarapé Surucucus, rio Mucajaí, rio Couto Magalhães, rio Apiaú, rio Novo, rio Catrimani e rio Lobo d'Almada.

A bacia do rio Mucajaí é a mais afetada, concentrando 180 km de destruição em dois trechos do seu leito, mais 50 km do rio Couto Magalhães, e 30 km da cabeceira do rio Apiaú, que deságua no Mucajaí, fora da Terra Yanomami, e 10 km do rio Novo, afluente do Apiaú.

A região é explorada por garimpeiros há décadas, que buscam minérios como ouro e cassiterita, usada na fabricação do estanho. Além de enfrentar o aumento desenfreado da exploração ilegal, os indígenas também lutam contra a destruição dos rios e a floresta, a disseminação de doenças e a falta de segurança das comunidades.

O relatório também expôs como garimpeiros têm recrutado jovens ianomâmi entregando armas e comida a eles em troca de segurança na floresta, a violência sexual contra meninas e a destruição ambiental. As novas informações são acompanhadas pelo Ministério Público Federal (MPF), que pediu ao governo federal novas ações policiais na reserva.

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