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Terenas bloqueiam rodovia em protesto contra Funai no Mato Grosso

Gazeta de Cuiabá-MT
Autor: Sílvio Carvalho
19 de Fev de 2002

Os índios terena fizeram um bloqueiro-relâmpago da BR-364 - das 15 às 16h48 -, na última sexta-feira, como protesto contra a demora da Fundação Nacional do Índio (Funai) na escolha do complexo rural onde serão assentados. Hoje, o cacique Mílton Terena entrega ao prefeito de Rondonópolis (198 km de Cuiabá), Percival Muniz (PMDB) o resultado do laudo antropológico. Os estudos, na verdade, foram concluídos no último dia 8 e chegaram às mãos do presidente da Funai, Glênio da Costa Alvarez, em 13 de fevereiro.
Composto de cerca de 200 páginas, o documento está na Diretoria de Assuntos Fundiários (DAF) do órgão, no Distrito Federal (DF). Aproveitando o tema da Campanha da Fraternidade, os índios também fizeram uma reunião com o bispo dom Juventino Kestering. "Queremos uma reunião, aqui, em Rondonópolis, com o presidente da Funai", resume o cacique, Mílton Rondon. Ele argumenta que os laudos já foram concluídos desde o início do mês e, até agora, efetivamente nada foi feito. "O bloqueio foi um alerta", sintetiza. Em função das chuvas, os barracos da população se deterioraram ainda mais.
Os índios temem a chegada do meio do ano, quando o processo eleitoral toma, definitivamente, conta do cenário político nacional. "Um novo governo precisa, pelo menos, de um ano para tomar pé da situação", lamenta. Já o assessor do prefeito, Luiz Antônio Silveira Abreu, observa que a situação ontem (segunda) era "tranquila". "Os laudos chegaram à Funai, em Brasília, no dia 15, estamos aguardando a decisão", ponderou. Ele diz acreditar que o impasse deverá ser resolvido até a próxima semana. Os índios, atualmente, moram em um estirão de terra do deputado federal Welinton Fagundes e recebem cestas básicas da Funai. Os terena são naturais do Mato Grosso do Sul.
Produção auxilia no levantamento
Na elaboração do laudo antropológico, Paulo Isaac levou em consideração um fator fundamental para os terenas: a produção. Povo cultivador, eles optaram por três tipos de atividades agrícolas -- agricultura familiar, pecuária e ecoturismo.
Atualmente, vivendo no acampamento Lago Azul, em Rondonópolis, os terenas recebem cestas básicas. Oriundos do Mato Grosso do Sul, esses índios deixaram sua região natal -- das 12 reservas demarcadas, três estão nas mãos de fazendeiros e pecuaristas. Banidos pela superlotação, os terenas chegaram a morar alguns anos com os bororos. No entanto, a incompatibilidade cultural entre os dois povos levou os bororos a fazer um abaixo-assinado, exigindo a expulsão dos sul matogrossenses.
Sem terra, os índios terenas foram obrigados a morar na periferia de Rondonópolis. Os homens se entregaram, como a maioria dos brasileiros, a trabalhos braçais mal pagos; suas mulheres, como grande parte das brasileiras, se tornaram empregadas domésticas, com baixa remuneração.
Foram para outra fazenda, mas acabaram também sendo expulsos -- enquanto saíam de madrugada, os jagunços queimavam tudo aquilo que sobrou de seus pertences. Assim, acabaram em um pequeno trecho de terra, de onde saem para reivindicar um pedaço de chão.
Região do Tarumã é a "terra ideal"
O resultado do laudo antropológico, elaborado pela professor da UFMT/Rondonópolis, Paulo Isaac, aponta o Complexo Tarumã como o ideal para assentar as famílias de índios terena. O laudo leva em consideração uma série de parâmetros: tamanho da área para o grupo, vias de acesso, localização, infra-estrutura, acesso à saúde e educação e produção. O Tarumã é localizado no município de Guiratinga, com dimensão de 8.420 ha. "Do ponto de vista da produção, todos os três complexos oferecem boas condições para assentamento; mas, se considerarmos os outros critérios, o Tarumã é o melhor", explica Paulo Isaac. Os outros são o Três Irmãos (em Pedra Preta), com 5.096 ha e o Chapadão (em Santo Antônio de Leverger), com 5.427 ha.
Desde o início, os próprios Terena haviam optado pelo Tarumã em razão de suas vantagens. Além de ser localizado próximo à cidade sede e ao município-pólo da região, o complexo conta com uma estrada (asfaltada) que passa dentro de sua área. As vias internas também são "ótimas", ao passo que a infra-estrutura permite a transformação da sede em escola e posto de saúde. Já existem 11 casas de material de construção com água e luz já construídas. De qualquer forma, em princípio, nenhuma delas está descartada.

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