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Tensão aumenta com morte de pataxó em Pau Brasil

A Tarde-Salvador-BA
Autor: Ana Cristina Oliveira
19 de Jul de 2002

O índio pataxó hã-hã-hãe Raimundo Rosa Neres, conhecido como Sota, de 42 anos, foi assassinado na madrugada de ontem por pistoleiros que estavam de tocaia na Fazenda São Francisco, de propriedade do produtor Valdir Alves. A notícia da morte do pataxó gerou muita tensão em Pau Brasil, que recebeu um contingente de 65 policiais do 15o Batalhão de Polícia Militar, sediado em Itabuna, e de cinco agentes da Polícia Federal de Ilhéus.
Segundo a mulher da vítima, Maria Célia Alves de Souza, Raimundo Neres foi emboscado e morto com um tiro, por volta das 4 horas da madrugada, quando saía de casa. José Neres disse que seu irmão foi morto por vingança, porque teria denunciado à Polícia Federal os pistoleiros que participaram, no início da semana, de tiroteio na fazenda de Valdir Alves, que fica em área de difícil acesso, na região de Taquari, distante 25 km do centro de Pau Brasil, dos quais cinco têm que ser feitos a pé.
José Neres revelou que o próprio fazendeiro teria avisado aos índios para deixarem a
propriedade, onde estavam há pouco mais de um mês, se não quisessem se dar mal. O corpo de Raimundo Neres só foi resgatado por volta das 23 horas de ontem, em função da dificuldade de acesso e também pelo atraso dos técnicos da PF que fizeram a perícia no local do crime.
Nervoso, o índio e vereador Agnaldo Santos chegou a discutir com o comandante regional da PM, denunciando uma quebra de direitos contra o povo pataxó, que já contabiliza 15 mortos nos últimos 20 anos, contra nenhuma baixa do lado dos fazendeiros. "O Supremo Tribunal Federal está há 20 anos para julgar a ação de nulidade de títulos e a Justiça ainda nos pede para esperar que nosso povo seja dizimado, mas nossa paciência se esgotou e vamos ter que reagir com a mesma violência para conter os fazendeiros, que agem estimulados pela impunidade", disse o vereador.
Na tarde de ontem, as lideranças indígenas registraram queixa na Polícia Civil, na Polícia Federal e notificaram a Procuradoria da República, em Ilhéus, que entrou em contato com a PF, em Brasília, solicitando o envio de 40 agentes para conter a violência na área do conflito.

Ainda na tarde de ontem, o comandante regional da Polícia Militar, Francisco Edgard Aires Santos Neto, chefiando um contingente do Comando de Operações Especiais da PM, anunciou a presença de 200 policiais, que vão fazer um cerco na cidade para impedir a entrada de armas. O comandante teve um rápido encontro com as lideranças pataxós e com o chefe do posto da Funai na reserva Caramuru, Alberto Evangelista, aos quais prometeu controlar a violência em Pau Brasil.
Alberto Evangelista acusou o ex-prefeito de Pau Brasil Durval Santana e outros dois
fazendeiros de comandar a violência na região. Evangelista denunciou aos agentes da PF que Durval Santana teria ameaçado um mecânico, conhecido como "Cé da Oficina", de "desaparecer" caso continuasse do lado dos índios. Ainda segundo Evangelista, três quartos da área pataxó está ocupada por pecuaristas, que fizeram um cordão de isolamento com pistoleiros bem-armados, orientados para matar índios que tentarem ocupar as fazendas.
O cacique Gerson Melo disse ao comandante da PM que policiais militares colaboram com fazendeiros, avisando-os sempre que a PF chega na área, facilitando a evasão de pistoleiros. Gérson Melo questionou o comandante por que o pistoleiro conhecido como "Boca" não foi preso em flagrante, após ter confessado à PF que foi o autor do disparo de espingarda calibre 12, que feriu com nove perfurações de chumbo o índio José Carlos Souza, na última

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