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Tembé decidem libertar reféns em Paragominas

O Liberal-Belém-PA
Autor: Edivaldo Mendes
23 de Set de 2003

Por não terem tido condições de alimentar por tanto tempo as 15 pessoas que, desde a última terça-feira, mantinham como reféns dentro da mata onde elas foram flagradas roubando madeira, e também porque cansaram de esperar pela presença da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Polícia Federal na área, os índios Tembé, da aldeia Tekohaw, localizada em Paragominas resolveram libertá-los e esperar pelo cumprimento da promessa da Funai de realizar uma grande operação na reserva indígena para combater a retirada ilegal de madeira. A informação foi fornecida pelos próprios índios, através da radiofonia instalada no prédio da Funai da travessa Padre Eutíquio, em Belém.

O procurador Felício Pontes de Araújo Júnior, do Ministério Público Federal no Estado do Pará, classifica de "muito grave", o que está acontecendo, hoje, dentro e na área de entorno da reserva indígenaTembé, no que diz respeito às grande retiradas de madeiras na região, comandadas por empresários do setor, aproveitando o forte verão, época mais propícia para homens, tratores e caminhões entrarem na mata. É por conta dessa situação que, na tarde da próxima quinta-feira, ele irá se reunir com representantes do Ibama, Exército, Polícia Federal e Incra, para montar uma grande operação visando reprimir esse crime.

Segundo Felício Pontes, não existe hoje, no País, um órgão que possa cumprir sozinho e de forma eficaz essa missão de combater o roubo de madeira dentro da reserva indígena tembé e em sua área de entorno. Como é o caso da Funai, que teve boa parte do seu orçamento reduzido pelo governo federal. "Diante dessa realidade, estamos nos reunindo para dividir a conta", afirma o procurador da República.

Denúncia - Um funcionário da Funai disse ontem que um índio Tembé estaria ajudando os madeireiros na extração de madeira dentro da reserva indígena. Na última sexta-feira, por ter se desentendido com um desses madeireiros, ele "colocou a boca no trombone, confessou sua participação e por isso foi expulso da aldeia onde ele morava". Hoje ele estaria residindo em Tucuruí. Mas foram as informações desse índio que deram uma dimensão aproximada da grande operação de retirada de madeira que está sendo executada na reserva indígena tembé.

Esse mesmo funcionário acha que se o Estatuto do Índio estivesse sendo posto em prática, não teriam ocorrido tantas invasões dentro das reservas indígenas da região amazônica. Ele explica que um dos itens do estatuto, criado em 1973, garante à Funai poder de polícia. "Se esse item fosse um dia posto em prática, mas infelizmente ele nunca foi regulamentado, só o pessoal da Funai e os índios teriam acabado com essas invasões, essa exploração ilegal de madeira. Os invasores e madeireiro teriam tanto prejuízo que nunca mais voltariam a por os pés dentro da reserva indígena", garante esse funcionário.

Problemas - Um novo conflito pode explodir a qualquer momento em outra área da reserva tembé, dessa vez no município de Nova Esperança do Piriá. Invasores que vivem nas vilas Pepino, Cupu, Água Preta, Mutuca e outras também estariam, segundo lideranças do tembé, fazendo uma grande retirada de madeira aproveitando o verão forte que faz na região. Os índios já comunicaram o fato à administradora executiva da Funai em Belém, Célia Valois, e ao Ministério Público Federal. Eles avisaram que se não forem logo tomadas as providências para impedir a devastação da floresta, eles entram na mata e expulsam os madeªireiros e seus trabalhadores.

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