VOLTAR

Tecnologia social leva água potável para índios de Mato Grosso

24 Horas News-Cuiabá-MT
Autor: Tatiana Wittmann
12 de Jun de 2003

Há mais de 100 anos, integrantes da Missão Salestiana realizam trabalhos sociais com povos indígenas que vivem no Mato Grosso.
Na última década, preocupados com o aumento do número de doenças e mortes provocadas pela crescente contaminação da água dos rios que servem às aldeias, os religiosos começaram a procurar - de forma empírica - soluções para a escassez de água potável nas comunidades por eles atendidas. Das diversas experiências realizadas, surgiu a tecnologia social Bomba Gangorra, que possibilita captar água potável sem a utilização de energia poluente - elétrica ou combustível - e ainda serve como brinquedo para as crianças indígenas.

"A poluição dos rios pelos agrotóxicos oriundos de fazendas em torno das propriedades indígenas vinha aumentando o número de problemas de pele e de intoxicação, principalmente entre as crianças e os idosos das aldeias", conta o articulador político da Missão Missão Salestiana do Mato Grosso, José Carlos Aguilera. "Também constatamos mortes causadas pela ingestão da água poluída", completa.

A solução encontrada é simples, mas exigiu várias tentativas dos irmãos Alois e Frans Wurstle, dois religiosos alemães que vivem no Brasil há mais de quarenta anos. "Eles fizeram vários inventos e testes buscando desenvolver um aparato que solucionasse a escassez de água potável nas aldeias indígenas Xavante e Bororo, sem degradar o meio ambiente e nem trazer riscos para os moradores da região", lembra Aguilera. "Dos testes surgiu a Bomba Gangorra, uma tecnologia criativa e de inspiração lúdica", diz orgulhoso o articulador.

Água com diversão - A Bomba Gangorra permite a extração de água potável de lençóis freáticos, a partir do movimento mecânico de compressão e aspiração de uma bomba instalada no fundo do poço semi-artesiano e que funciona impulsionada por uma gangorra. "Ou seja, enquanto as crianças brincam na gargorra, elas produzem a energia mecânica necessária para sugar a água do poço, que depois segue para um reservatório de 200 litros", explica Aguilera.

A água captada pela Bomba Gangorra não serve para abastecer toda a aldeia e não chega a ficar armazenada por muito tempo. "Os índios utilizam esta água diariamente, de forma emergencial, para tomarem banho, beber e cozinhar", diz Aguilera.

Resultados visíveis - As primeiras Bombas Gangorras começaram a funcionar há sete anos, em aldeias que ficam na região central do Mato Grosso. Hoje são mais de 300 bombas espalhadas pelo Estado e também pelo Mato Grosso do Sul, que beneficiam cerca de 800 famílias Xavante e Bororo. Os integrantes do projeto Assistência Missionária Ambulante [AMA] verificam, periodicamente, o funcionamento das bombas gangorras e, desde a primeira instalação, ainda não houve necessidade de manutenção.

Os principais resultados desta tecnologia são a redução dos indicadores de doença e morte entre os índios por contaminação de água dos rios. "Além de melhorar a qualidade de vida destas comunidades, a tecnologia dá condições para que isto aconteça através da utilização de recursos naturais, que é uma característica dos povos indígenas", diz Aguilera. "Captar água potável sem a utilização de máquinas e sem destruir a natureza têm um significado muito especial para este público", acredita.

A Bomba Gangorra é destinada em especial às comunidades desprovidas de qualquer alcance de urbanização ou rede de energia, o que, infelizmente, é uma realidade em muitos municípios brasileiros. Por isso, a Missão Salestiana do Mato Grosso vem estudando a possibilidade de reaplicar esta tecnologia em outras regiões. "Estamos começando a realizar pesquisas com professores da Universidade Católica Dom Bosco [UCDB] para dar um caráter mais científico a esta tecnologia social. Entre elas está o estudo da possibilidade de utilizar energia solar para fazer o bombeamento da água", conta Aguilera.

E, a pedido da Organização Mundial da Saúde [OMS], também estão sendo testadas possíveis adaptações para que a Bomba Gangorra seja utilizada em países da África e da América do Sul. "Nem todas as regiões têm a sorte de estarem localizadas sob um aquifero [manancial subterrâneo] saudável como nós estamos. Por isso precisamos encontrar outras possíbilidades para a captação da água", finaliza Aguilera.

Mais informações sobre a Bomba Gangorra podem ser encontradas no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil [www.cidadania-e.com.br].

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.