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Tecnologia aprimora atendimento médico em vilarejos isolados da Amazônia

Globo https://oglobo.globo.com/
Autor: Sérgio Matsuura
06 de Out de 2018

O consultório foi improvisado numa sala de aula, com a mesa do professor servindo como maca. Os ventiladores amenizavam o calor amazônico, mas não o suficiente para resfriar o médico Ricardo dos Santos Faria e o enfermeiro Marcelo Brendew, que, ensopados em suor, atendiam a população da comunidade Divino Espírito Santo do Isidório, um vilarejo nas margens de um igarapé do Rio Coari Grande, isolado a uma hora de barco de Coari, município a um dia de viagem de balsa de Manaus. O atendimento é básico, como suturas de ferimentos e diagnósticos clínicos, mas está ganhando exames mais complexos graças ao uso da tecnologia.

Sem condições básicas de saneamento, os moradores das comunidades ribeirinhas convivem com doenças provocadas por parasitas intestinais, como lombrigas e amebas, e doenças de pele causadas por fungos. As crianças enfrentam problemas no desenvolvimento por causa da anemia e de superinfestações parasitárias. Os que precisam se aventurar no interior da floresta ficam mais vulneráveis à malária e à leishmaniose, transmitidas por picadas de mosquito, e acidentes com cobras e jacarés. Entre os idosos, o principal problema é a hipertensão.

O consultório foi improvisado numa sala de aula, com a mesa do professor servindo como maca. Os ventiladores amenizavam o calor amazônico, mas não o suficiente para resfriar o médico Ricardo dos Santos Faria e o enfermeiro Marcelo Brendew, que, ensopados em suor, atendiam a população da comunidade Divino Espírito Santo do Isidório, um vilarejo nas margens de um igarapé do Rio Coari Grande, isolado a uma hora de barco de Coari, município a um dia de viagem de balsa de Manaus. O atendimento é básico, como suturas de ferimentos e diagnósticos clínicos, mas está ganhando exames mais complexos graças ao uso da tecnologia.

Sem condições básicas de saneamento, os moradores das comunidades ribeirinhas convivem com doenças provocadas por parasitas intestinais, como lombrigas e amebas, e doenças de pele causadas por fungos. As crianças enfrentam problemas no desenvolvimento por causa da anemia e de superinfestações parasitárias. Os que precisam se aventurar no interior da floresta ficam mais vulneráveis à malária e à leishmaniose, transmitidas por picadas de mosquito, e acidentes com cobras e jacarés. Entre os idosos, o principal problema é a hipertensão.

É o caso de Geraldo Nogueira de Melo, de 63 anos. Hipertenso, ele estava com pressão arterial elevada e precisava de um eletrocardiograma, exame antes restrito às clínicas da cidade, mas que foi incorporado às visitas comunitárias. Deitado na "maca", ele teve os eletrodos fixados no peito, que mediram a atividade elétrica do seu coração. O laudo não é feito in loco. Os resultados são levados para Coari e, de lá, enviados pela internet para serem analisados por médicos conectados à rede.

- Em Coari não temos cardiologistas nem neurologistas. Eles aparecem de vez em quando, em "operações beija-flor". Chegam, passam dois dias, atendem a população e vão embora. Um cardiologista esteve em Coari no mês passado. Antes disso, ficamos um ano e nove meses sem a visita de um especialista - conta Ricardo Faria. - Aqui eu preciso ser um "tudologista", saber um pouco de cada coisa. Ter os laudos dos exames me ajuda muito na decisão de enviar ou não um paciente para Manaus.

Apoio de ONGs e igrejas

Faria faz atendimentos voluntários desde 1997, quando ainda cursava medicina em Manaus. A primeira experiência aconteceu em Saracá, uma comunidade a cerca de cinco horas de barco de Manaus, nas margens do Rio Negro. De lá para cá são mais de duas décadas prestando serviços voluntários, duas ou três vezes por mês, como programa de fim de semana. Após ser contratado pela Prefeitura de Coari, apenas mudou o endereço das visitas.

- Foi o doutor Ricardo que detectou que eu tinha pressão alta. Isso já faz uns dez anos - lembra Geraldo. - É ele quem faz os exames e me dá os remédios para a pressão e o colesterol.

O trabalho voluntário recebe apoio da prefeitura, de ONGs e de igrejas locais, além do bolso do próprio médico. Os exames que não podem ser realizados nas comunidades são encaminhados para a Clínica de Medicina Ocupacional de Coari (Cemoc), aberta em 2011. Suzete Gomes Faria, de 46 anos, mulher de Faria e administradora da clínica, reclama de excessos na filantropia do marido.

- A gente abriu a clínica para atender as empresas que estavam chegando na região. Mas, vendo o sofrimento da população, começamos a atender com preços populares; 50% dos atendimentos que fazemos são cortesia. Ele ganha o salário na prefeitura e a gente gasta com a clínica - brinca Suzete.

Desde 2016, a clínica mantém parceria com a start-up Portal Telemedicina, que fornece laudos de exames pela internet, em no máximo 24 horas. Em urgências, as análises retornam em minutos. A adoção da tecnologia permite que Faria ofereça exames antes inexistentes no município, como o MAPA, o holter e o eletroencefalograma. Agora, ele está investindo na oferta de exames radiológicos.

Foi essa facilidade que salvou a vida de Paulo de Souza Dantas, de 61 anos. Ele chegou à clínica de Faria em estado de insuficiência cardíaca grave, dizendo que queria morrer na cidade e não aguentava mais sofrer. "Eu tinha o coração 'bichado'", lembra. O primeiro exame aplicado foi o eletrocardiograma. O resultado foi enviado pela nuvem e, em poucos minutos, o laudo pedia urgência na reavaliação clínica. Então, o paciente foi submetido ao holter, que detectou problemas no marcapasso.

- A tecnologia aproxima a necessidade dos pacientes com os maiores centros do país - diz Faria. - Antes, provavelmente ele ficaria internado no hospital aqui de Coari, sendo medicado até ter condição clínica de remoção. Embarcaria numa UTI aérea e seria recebido num pronto-socorro em Manaus. Seria avaliado por um cardiologista, faria o holter e cairia na fila de atendimento do SUS. Acho difícil que ele sobrevivesse.

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