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Tecnologia 3G ajuda índios e pescadores

OESP, Negócios, p. B16
21 de Ago de 2010

Tecnologia 3G ajuda índios e pescadores
Projeto servirá para monitorar a produção da pesca e do cultivo de mariscos na Bahia, em parceria desenvolvida entre ONG e empresas
Hugo Passarelli

Irene de Jesus é uma das mulheres que vivem da cultura das ostras em Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália (BA). Entre as índias Pataxó que vivem na região e trabalham na atividade, Irene é exceção. A marisqueira sabe escrever só o básico, mas garante que consegue se virar na leitura.
Recentemente, um dos exercícios diários de leitura de Irene passou a ser a consulta de um aplicativo no aparelho de celular, por meio do qual ela mede a temperatura e salinidade da água e controla o crescimento das ostras.
O programa manda as informações para uma base de dados que, futuramente, facilitará o acompanhamento do ritmo de desenvolvimento das ostras na região. "Montar uma planilha semanalmente, em papel, dá muito trabalho e as pessoas acabam não fazendo. E o aplicativo gera automaticamente um gráfico", diz Thiago Trombeta, engenheiro do Projeto Pescando com Redes 3G, do qual Irene participa.
O projeto foi implantado em outubro de 2009 e, além da aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, atende o distrito de Guaiú e outras regiões de Santa Cruz Cabrália. Antes de colocar o programa de pé, foi feita um curso com os pescadores. "Eles nos disseram quais eram as suas dificuldades e nós tentamos resolver esses problemas por meio da tecnologia", conta Trombeta.
Investimento. O lançamento oficial só aconteceu na semana passada, mas o projeto ainda está no meio do caminho de conclusão. Ele foi idealizado pela companhia americana Qualcomm (de tecnologia para comunicação móvel) em conjunto com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e envolveu parcerias com a Vivo, a ZTE e a Prefeitura de Santa Cruz Cabrália. A ONG Instituto Ambiental Brasil Sustentável (Iabs) ficou responsável pela execução do projeto.
O investimento não é divulgado. Apenas a Usaid diz quanto empregou - R$ 60 mil gastos com assistência técnica. Entre 150 e 200 famílias do município poderão ser beneficiadas quando todo o projeto estiver disponível. Em Coroa Vermelha já são 50 famílias beneficiadas.
"Meu marido tem um barco de 8 metros e eu sempre tive o sonho do aumentar a produção de pescado", diz Irene. Daqui a cerca de sete meses, quando a primeira leva de ostras estiver pronta para a venda, será possível medir o impacto na renda de Irene. Atualmente, o ganho médio mensal da população de Coroa Vermelha é de cerca de R$ 445.
"Já temos três alicerces, o tele-centro, o barco escola para pesca experimental e a maricultura, mas há muito que fazer", explica o diretor de pesca do município, Claudio Mendes. Para ele, a relevância do projeto está em levar tecnologia para uma atividade carente de políticas públicas.
Sediado na colônia de pescadores em Santa Cruz Cabrália, o tele-centro é usado para a capacitação e treinamento. O local, onde já funcionou uma cadeia, hoje abriga 18 computadores, uma sala de aula para videoconferência.
Perfil. Cabrália está a 782 quilômetros ao sul de Salvador e faz parte da chamada Rota do Descobrimento, que engloba cidades como Porto Seguro e Arraial D"Ajuda.
A cidade foi escolhida por ser a única, entre as opções analisadas, a ter o sinal 3G, necessário para realizar esse tipo de projeto.
Francisco Soares, da Qualcomm, destaca a vocação turística da região, com pousadas, restaurantes e rede hoteleira adequada. "O potencial é muito grande", diz ele sobre a possibilidade desses estabelecimentos virarem clientes do pescado de Cabrália.
A pesca é a prioridade na primeira fase do projeto. Com o aplicativo, os pescadores poderão calcular, antes de voltar do mar, se terão lucro.
Ricardo Salgueiro, técnico do projeto, explica que o programa faz um cálculo com base no dinheiro gasto para comprar diesel e gelo e cruza as informações com a quantidade de peixe pescado.
Por enquanto, o serviço ainda é limitado, pois o sinal 3G não alcança distâncias superiores a 15 milhas náuticas da costa - a atividade pesqueira é feita entre 30 e 45 milhas. No futuro, a promessa é de fornecer os dados em tempo real.

OESP, 21/08/2010, Negócios, p. B16

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100821/not_imp598083,0.php

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