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Tapebas dependem da agricultura para sobreviver

O Povo-Fortaleza-CE
Autor: Débora Dias
21 de Mar de 2002

Os índios tapebas podem perder as lavouras que plantaram este ano por causa da praga da lagarta e da mosca branca. Eles esperam a chegada de um inseticida. A Funai garante que os índios ainda receberão o material necessário para a produção deste ano

Falta terra para 80% dos índios tapebas. As lavouras que existem estão sendo destruídas por lagartas e pela mosca branca do feijão. O resultado: famílias passando fome, índios sem fonte de renda. Muitos tiram seu sustento das diárias que aparecem na construção civil, outros como pedintes nas cidades próximas. É o que denunciam as lideranças da tribo, localizada no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza.

''Tá difícil ter uma terra sem males'', diz a liderança tapeba Raimunda Cruz do Nascimento, em alusão ao lema da Campanha da Fraternidade da igreja Católica de 2002. Segundo ela, há agricultores que já perderam tudo o que plantaram para esse ano. A gente só sobrevive por que Deus quer'', desabafa. A solução apontada pela comunidade para combater as pragas é o uso de um inseticida que é distribuído pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

''Inseticida que a Funai promete desde de janeiro'', reclama Antônio Ricardo Dourado Tapeba, que também é coordenador geral da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). Dourado afirma que, todo ano, os índios perdem parte do que é plantado por que a Funai não distribui o material necessário em tempo hábil.

Ele afirma ainda que a pouca terra de domínio indígena continua a ser ameaçada por posseiros. ''As invasões continuam'', alerta. De acordo com Dourado, os 4.800 tapebas ocupam uma área de 4.658 hectares. O ideal, para que a terra seja suficiente para todos, são 10.000 hectares.

''A vida do índio é a terra'', diz Raimunda Cruz. Segundo a liderança, na área de posse dos tapebas, os índios não deixam o meio ambiente ser agredido. ''O pessoal branco destrói, faz muita porqueira'', considera Raimunda.

O diretor do núcleo da Funai do Ceará, Alexandre Cronner de Abreu, reconhece que as reclamações dos índios são legítimas. ''O erro é da Funai, mas não por omissão, mas por falta de condições'', justifica Cronner. Ele explica que o projeto agrícola índios do Estado, em anos anteriores, era de difícil manutenção e acompanhamento. Isso porque o núcleo cearense da Funai tem menos de um ano e os projetos eram feitos em outros estados. Ao serem implantados aqui, não havia o acompanhamento de um técnico.

Alexadre Cronner garante que os tapebas receberão ainda este ano o material necessário para a produção agrícola de 2003. ''A Funai está fazendo um projeto agrícola com a cara dos índios do Ceará'', divulga.

Mas o diretor da Funai admite que ainda não se pode oferecer condições ideais. ''A Funai (nacional) trabalha com um orçamento mínimo em agricultura'', diz. Segundo o diretor, o orçamento da instituição para a atividade agrícola de todos os índios do Brasil está em torno de seis milhões de reais. O que daria apenas dezoito reais por índio ao ano. ''Ainda há áreas exclusivamente agrícolas que recebem mais'', acrescenta.

Os tapebas também não se beneficiam dos projetos da Secretaria do Desenvolvimento Rural do Estado (SDR), sob orientação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematece). Segundo a chefe do Centro de Atendimento ao Cliente da Ematece de Caucaia, Gessilda Correia Nunes, há projetos de auxílio ao pequeno agricultor que poderiam beneficiar a comunidade indígena.

Entretanto, não houve nenhuma aproximação da entidade com os índios. ''A gente pensa que eles não são agricultores'', diz Gessilda. Ela garante que a Ematece vai conversar com as lideranças tapebas para divulgar o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf).

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