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Surgimento de novos líderes cria "briga" entre gerações

Diário de Cuiabá-MT
04 de Nov de 2001

Tradicionalmente, numa aldeia nambikwára, quem chefia e decide são os índios mais velhos. Mas na reserva Sararé, a partir do contato com o homem branco, lideranças mais jovens começaram a se despontar e a manifestar um tipo de dissidência. Enquanto os mais velhos mantêm íntegros os traços culturais da etnia, como a língua, a coleta de alimentos e as relações de trabalho, os jovens procuram aprender as coisas do branco, como dirigir um carro ou falar o português.

Mesmo depois da chegada da ong Missão Cristã Brasileira às aldeias, por exemplo, os mais velhos continuam a andar nus pela reserva, e das mulheres de mais idade a igreja conseguiu apenas fazer com que elas usassem calcinhas. Os mais jovens, no entanto, passaram a usar calça jeans e camiseta.

Como a relação com os brancos é hoje um ponto crucial à sobrevivência dos nambikwára - e os mais jovens acreditam que podem ser os melhores interlocutores com os que vêm de fora - uma certa desunião se instalou na reserva. "Os velhos têm que fazer coisas de velho. Deixar a gurizada nova defender o povo. Os velhos estão teimosos, têm cabeça dura", diz Danielsu Katitaurlu, de 23 anos. "Nós, os velhos, já apanhamos muito, sabemos que madeireiro é safado. Só as crianças ainda não perceberam, porque têm cabeça dura", responde Pedro Katitaurlu, 65 anos.

A esperança da Funai é que, ao se casarem, os jovens dêem mais importância à coletividade, já que cada índio tem às vezes três ou quatro esposas para cuidar. Segundo ele, todos os projetos comunitários devem ser muito conversado com todos os índios, para que possam dar certo. "Assim, os mais velhos continuarão a decidir, num semblante de sabedoria, e os mais jovens serão a força que vai levar o povo para frente", resume Prudente Pereira.(OM)

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