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State Grid vence disputa por linhão de Belo Monte e avalia ativos da Eletrobrás

OESP, Economia, p. B14
18 de Jul de 2015

State Grid vence disputa por linhão de Belo Monte e avalia ativos da Eletrobrás
Leilão. Estatal chinesa aceitou receber R$ 988 milhões por ano e foi a vencedora da disputa para construção e operação da segunda linha de transmissão de energia da usina hidrelétrica do Pará; empresa já está de olho em outras oportunidades de negócios no Brasil

A estatal chinesa State Grid venceu ontem o leilão para construir e operar o segundo linhão de transmissão de energia da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e deixou clara a intenção de ampliar os projetos no País, revelando interesse em ativos da Eletrobrás.
A empresa aceitou receber R$ 988 milhões por ano para construir e operar a concessão, em um deságio de 19% ante o teto estabelecido pelo governo para a disputa. Venceu a espanhola Abengoa, que fez uma proposta de R$ 1,049 bilhão de receita anual, com deságio de 14%, e foi derrotada na primeira rodada de apresentações de ofertas.
O deságio, que acaba tendo impacto na tarifa de energia, foi menor que os 38% registrados no leilão do primeiro linhão, que também trará energia do Pará para o Sudeste, uma vez que apenas duas companhias fizeram lances. Isso num momento em que a seca dos últimos anos e condições mais apertadas de financiamento limitam investimentos das elétricas brasileiras.
Dessa forma, foi a primeira vez que os chineses participaram sozinhos de um leilão de energia no Brasil. Mas o vice- presidente-executivo de Operação e Manutenção da State Grid, Ramon Haddad, revelou que a empresa estuda todas as oportunidades de negócio no País, inclusive em geração e distribuição. Estão no radar empresas que o Grupo Eletrobras deve colocar à venda.
O governo brasileiro já autorizou a contratação do IFC, do Banco Mundial, para estruturar o processo de venda da Celg, distribuidora da Eletrobras que atende o Estado de Goiás e será a primeira a ser ofertada aos investidores.
"Vamos acompanhar as oportunidades de mercado. A Celg vai ser a primeira, e por isso será a primeira a ser analisada... vamos acompanhar o que está disponível, o que o mercado e as empresas têm a oferecer", afirmou Haddad, ao ser questionado sobre o interesse nos ativos da estatal brasileira.
Em geração, o foco da empresa será em usinas de energia renovável, como eólicas e solares, de acordo com Haddad.
Desafio. Em parceria com a Eletrobrás, a State Grid havia vencido a disputa, no ano passado, pela concessão do primeiro linhão que transportará a energia de Belo Monte, mas o empreendimento licitado nesta sexta-feira é visto como mais complexo pela empresa. "Queríamos um prazo maior (para construir a linha), mas infelizmente o definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi 50 meses. E um desafio, um desafio grande", disse Haddad.
O executivo também disse que a State Grid continuará em busca de parceiros para o investimento, mesmo após o leilão. "Nossa tentativa é de continuar negociando uma parceria no Brasil. Dada a complexidade do projeto, o formato de parcerias pode ser adequado para implementá-lo com sucesso", disse.
Segundo Haddad, a obra deve ser financiada com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a emissão de debêntures de infraestrutura, além de eventuais outros formatos de captação de recursos.
O vice-presidente de Novos Negócios da State Grid, Qu Yang, afirmou que "a busca é pelo uso integral de trabalhadores locais" nas obras do linhão, embora esteja prevista a vinda de especialistas chineses para apoiar a implementação do projeto devido ao uso da tecnologia de ultra-alta tensão, ainda inédita no Brasil.
Ele disse que as notícias de que a State Grid busca trazer mais de dez mil trabalhadores chineses para a construção de suas linhas no País são "um folclore".
Cronograma. Os diretores da Aneel André Pepitone e José Jurhosa, que acompanharam o certame, definiram o resultado como um sucesso e defenderam que o cronograma do linhão não causará problemas
para o escoamento da geração de Belo Monte. "O aparato que já foi licitado já permite o escoamento sem déficit", disse Pepitone, referindo-se ao primeiro linhão, leiloado no ano passado, e a outras linhas licitadas anteriormente para reforçar o sistema da região Norte.
Questionado por jornalistas sobre a não participação da Eletrobrás e um eventual desconforto com a vitória de chineses, o secretário adjunto de Planejamento do Ministério de Minas e Energia, Moacir Carlos Brestol, disse que a estatal brasileira seguirá participando de leilões de transmissão e que a vitória da State Grid não incomoda. "A única coisa que esperamos é que eles cumpram o prazo, porque (o projeto) é muito importante para o escoamento da energia de Belo Monte, que está (com as obras) em pleno andamento."
Segundo Pepitone, da Aneel, o leilão de ontem representa o início de uma série de leilões de transmissão a serem realizados no Brasil nos próximos meses. A agência reguladora estima que o investimento em todos os projetos licitados somaria R$ 42 bilhões, dos quais R$ 7 bilhões devem ser direcionados à segunda linha de transmissão de Belo Monte. / ANDRÉ MAGNABOSCO, COM REUTERS

OESP, 18/07/2015, Economia, p. B14

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