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State Grid admite interesse por linhas da Abengoa

Valor Econômico, Empresas, p. B2
02 de Mar de 2016

State Grid admite interesse por linhas da Abengoa

Rodrigo Polito, Rafael Bitencourt e Camila Maia

A estatal chinesa State Grid admitiu ontem ter interesse nos ativos de transmissão da espanhola Abengoa no Brasil. Sem detalhar quais empreendimentos estariam no foco, a empresa explicou que ainda não há uma proposta firme apresentada para o negócio e que quem conduz esse tipo de operação é o braço internacional do grupo estatal asiático.
"Todas as operações de aquisições são monitoradas pela State Grid International Development. No entanto, a State Grid Brasil Holding [SGBH] confirma que há interesse nos ativos da Abengoa, mas que nenhuma proposta formal foi realizada", informou a SGBH, em nota ao Valor.
Conforme antecipado na tarde de ontem pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, um grupo de executivos da área internacional do grupo chinês esteve no Brasil na semana passada. A companhia tem realizado uma série de reuniões internas para discutir a oportunidade de negócio.
Na sexta-feira, representantes da State Grid estiveram reunidos com o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Luiz Eduardo Barata, em Brasília. O governo tem se esforçado para encontrar companhias interessadas nos ativos da Abengoa e evitar que o atraso nas obras de transmissão afetem o fornecimento de energia no futuro.
Ontem, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que duas empresas estrangeiras já manifestaram interesse em assumir os ativos de transmissão da Abengoa no país, mas não citou o nome delas. "Conversamos com dois interessados, que efetivamente se manifestaram, e nós estamos analisando para ver se as propostas são viáveis e se elas são firmes do ponto de vista de viabilizar a entrega das concessões no prazo estabelecido", afirmou, após reunião com a
presidente Dilma Rousseff.
Conforme noticiou o Valor há duas semanas, o governo chegou a avaliar a intervenção administrativa nos ativos da empresa espanhola, o que é considerada como uma medida extrema para salvar concessões estratégicas. No fim de 2015, a holding da Abengoa ingressou com pedido preliminar de recuperação judicial no exterior, o que levou à paralisação de obras no Brasil - incluindo a construção da chamada linha "pré-Belo Monte", que interliga a hidrelétrica, no rio Xingu (PA), ao Nordeste, com 1,8 mil quilômetros de extensão.
Braga disse que uma das empresas informou ao governo que pretende assumir todos os ativos da Abengoa no país, tanto em operação quanto ainda em construção. O outro grupo, porém, está disposto a ficar apenas com parte dos empreendimentos concedidos. "Eles se interessam em parte das concessões e, portanto, as outras teriam que entregar Nós, então, executaríamos as garantias que nós temos", afirmou o ministro, ao se referir à garantia de fiel cumprimento exigida nos leilões de empreendimentos do setor elétrico, que é executada em caso de desrespeito das cláusulas contratuais.
O ministro disse ainda que o interessado na compra parcial dos ativos da Abengoa, que incluiria três ou quatro linhas de transmissão em construção, teria que submeter a transação à aprovação em juízo para que a transferência do controle fosse confirmada.
A obra da linha "pré-Belo Monte" se encaixa perfeitamente no foco da State Grid. O grupo chinês, que já comprou ativos da Abengoa no Brasil no passado, detém a concessão dos dois linhões que ligarão a mega usina ao Sudeste, com mais de 2 mil quilômetros cada.
Ontem, o presidente da Transmissora Aliança Energia Elétrica (Taesa), empresa privada que tem como principais acionistas a Cemig e o FIP Coliseu (administrado pelo Banco Modal), José Ragone, disse que a empresa não tem interesse nos ativos da Abengoa, nas condições atuais das concessões. "A Taesa não tem nenhuma negociação em curso ou estudo em andamento relativo à aquisição de qualquer ativo da Abengoa", afirmou o executivo ao Valor.
A Taesa foi uma das empresas convidadas pelo MME para conversas sobre a situação das linhas da Abengoa. "O ministério nos chamou para conversar sem compromisso, uma conversa natural", disse Ragone. Segundo ele, não se tratou de uma "tentativa de intermediar" do governo, mas sim uma conversa "normal".
Para o executivo da Taesa, esse não é um problema de solução breve, considerando o tamanho das concessões da Abengoa.
Enquanto a opção de intervenção para relicitação seria ideal do ponto de vista jurídico, o governo busca uma solução mais rápida, passando pela venda dos ativos. Segundo uma fonte do setor, a questão dos prazos dos projetos deve ser negociada, caso o governo consiga repassar as condições para um novo concessionário. Ela defende, por exemplo, que o período de paralisação das obras seja descontado do prazo final antes da transferência do contrato de concessão.
Com dívidas superiores a R$ 3 bilhões, a Abengoa também entrou com pedido de recuperação judicial no Brasil, em janeiro. A companhia contratou a G5 Evercore para auxiliar na reestruturação no país, onde possui 6,3 mil quilômetros de linhas em construção. O grupo também possui R$ 1,077 bilhão em receita anual permitida, o equivalente a uma participação de 6,2% no mercado de transmissão brasileiro.

Valor Econômico, 02/03/2016, Empresas, p. B2

http://www.valor.com.br/empresas/4461930/state-grid-admite-interesse-po…

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